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Sophia

Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu no passado dia 2 de Julho. A sua morte é motivo de luto nacional pois perdemos uma grande poeta, no verdadeiro sentido da palavra. Uma evocadora, uma lutadora, uma pessoa do mundo e da arte.

Relativamente à sua vida de poeta esquivo-me a escrever um grande elogio de teor intelectual, por receio de cair na pretensão, na presunção ou na complexidade de linguagem tão distante dos seus ideais de vida. Certamente que a melhor saudação póstuma que poderemos fazer-lhe será a de lhe dedicarmos algum tempo relembrando a simplicidade empenhada dos seus versos e prosa. De certo modo, ainda que muito apressadamente, foi isso que eu fiz durante algumas horas deste fim-de-semana. E ainda tenho uma longa jornada pela frente. Mas, valeu-me de muito. Os poemas têm sempre algo a comunicar, a fazer sentir, a fazer ver e experimentar…

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu na cidade do Porto a 6 de Novembro de 1919. Como o seu nome indica, é de origem dinamarquesa por parte do pai embora tenha sido educada no seio de uma tradicional família aristocrática do norte de Portugal. Da família recebeu valores de moral cristã, que na prática não rejeitou embora tivesse adoptado uma estética que poderemos considerar de pagã na relação com os elementos da Natureza. Do avô materno aprendeu a questionar o mundo, os intelectuais e a reconhecer a hipocrisia do poder. Mais tarde, como adulta preocupada com a vida dos Homens, embrenhou-se em movimentos de natureza política liberal, aqueles que na época, terá considerado os mais justos.

Como artista escreveu alguma prosa e dedicou-se à literatura infanto-juvenil, muito embora acredite que o seu grande legado é a poesia. A poesia, para Sophia, passa necessariamente por uma interiorização do mundo exterior que é filtrado pelo/a poeta de modo a procurar uma harmonização do caos dos acontecimentos presentes. Sem dúvida que este poder compensatório que a poesia contem é uma afirmação marcadamente subjectiva. A ideologia humanista e preocupada de Sophia obrigam-na a usar a sua arte e o seu encanto na denúncia das injustiças e da opressão. O desinteresse é criticado nas palavras Perdoai-lhes Senhor/ Porque eles sabem o que fazem (“As pessoas sensíveis”). Aliada à forte subjectividade, a obra de Sophia de Mello Breyner é igualmente simples na visão das coisas, elas aparecem nos poemas tal como são: o vento, o sol, a luz, o mar. A natureza surge como um meio de pacificação, de restabelecimento de uma ligação com a origem há muito esquecida. Não é um refúgio egoísta, antes um exemplo, uma ligação divina. A natureza representa a última (e a primeira) perfeição e verdade. Nesta representação de equilíbrio e de ordem é possível encontrar alguma reminiscência helenística que também se denota no uso contido e económico da linguagem. As imagens são muito concretas, contudo muito apelativas; a expressão é límpida, contudo poderosa. Da poesia prevalece uma expressão segura, certa, evocativa mas embrenhada e quase que filosófica. O pensamento flúi nos poemas através de uma liberdade métrica e rítmica, sem imposições nem constrangimentos. Como se falasse… Como se evocasse…

Por: Carla Ravasco

* Docente da ESE – IPG

Sobre o autor

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