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Sonhos Vencidos…

Corta!

E Martin Scorsese lá voltou a sair de mãos vazias. Após tantas nomeações que até já se perde a conta, o realizador de filmes como Taxi Driver, Touro Enraivecido ou Tudo Bons Rapazes, continua assim a sua saga de génio incompreendido pela Academia de Hollywood. Convém recordar que, por exemplo, Hitchcock também nunca venceu a estatueta dourada e não deixa de figurar na lista dos melhores realizadores de todos os tempos para muita gente.

Mas se Scorsese foi o principal perdedor da noite, outros há que esperavam certamente algo mais que apenas uma presença na festa e a partilha dos holofotes antes de sabido o nome vencedor. Annette Bening, por As Paixões de Júlia, não esperaria, provavelmente, a repetição da noite de anos recentes, onde também aí perdeu para Hillary Swank. A história repetiu-se. Sem tirar mérito a Swank, Bening tem em As Paixões de Júlia todo um filme para si direccionado, e não deixa nunca de cumprir com a responsabilidade que lhe foi dada pelo realizador István Szabó, que assina aqui um muito interessante filme em território inimigo, com o teatro como palco principal.

A maior injustiça da noite, no entanto, aconteceu na categoria masculina, onde Jamie Foxx acabou por levar a melhor sobre Leonardo DiCaprio. Baseados ambos os papéis em gente real, há uma abismal diferença entre as duas representações. Foxx conseguiu, de facto, em Ray, encarnar a figura de Ray Charles, e ao longo das quase três horas de filme, é Ray quem realmente vemos perante nós. Mas é assim do princípio ao fim. Já DiCaprio, em O Aviador, consegue mudar o seu registo por várias vezes ao longo de todo o filme, atingindo um leque de soluções ao alcance de poucos. Talvez para muitos este continue a ser o puto do Titanic e não consigam por isso ver o excelente actor que existe por detrás da máscara.

… E Vencedores

E o grande vencedor da noite foi mesmo o realizador que, para muitos, parece só agora ter começado a realizar (bons) filmes. Durante muitos anos, Clint Eastwood não passava, para uma imensa maioria, de um actor pouco brilhante que fazia sempre os mesmos papéis de duro, em policiais duvidosos, e que ninguém se arriscasse sequer a afirmar que também ele era responsável por brilhantes filmes por si realizados. Entretanto tudo mudou, e com Million Dollar Baby, tal como já tinha acontecido com o anterior Mystic River, Eastwood parece ter sido finalmente aceite pelas supostas elites que supostamente julgam decidir o que está in ou out. O seu último filme é de facto brilhante, e merece todos os prémios que lhe queiram dar. A lembrar os melhores filmes de John Ford, e com excelentes representações por parte de todos os actores, é já um dos candidatos a figurar nas listas dos melhores do ano.

Outro vencedor da noite foi Charlie Kaufman, com O Despertar da Mente, que vê finalmente aceite a sua extravagância, presente em todos os seus inconfundíveis argumentos.

Imago nos Óscares

Quem também, de alguma forma, ganhou alguma coisa nestes últimos Óscares foi o festival Imago, já com próxima edição marcada para os primeiros dias de Outubro, no Fundão. As curtas WASP e Ryan, vencedoras de Óscares na categoria de curtas, estiveram ambas presentes na mais recente edição deste festival e de lá sairam com prémios. Afinal, a qualidade dos festivais, não se mede pelo tamanho das cidades onde esse mesmo festival se realiza. Da próxima vez estejam atentos. O que é bom nem sempre, obrigatoriamente, acontece longe.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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