A primeira curta-metragem de ficção de João Trabulo estreia esta noite na Guarda, com uma sessão/debate na Mediateca VIII Centenário. “Sol Dormente” foi parcialmente rodado na Guarda no Inverno com actores da cidade e está seleccionado para a competição nacional do próximo Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde, a realizar em Julho de 2005. Trata-se de um filme que aborda o «humanismo e desumanismo de um mundo em vias de extinção», refere o jovem realizador com ligações à Guarda que quis transpor para o ecrã a monotonia e o tempo «doentiamente repetitivo» de uma cidade do interior.
«Senti pela primeira vez esse tipo de monotonia na região fronteiriça da Beira Alta e Alto Douro, região à qual pertenço. Essa monotonia, que podemos sentir se percorrermos a região e nos detivermos um pouco nas aldeias, vilas ou cidades, não é particularmente negativa. É uma espécie de sensação de desalento e melancolia que paira no ar e se nota no comportamento das pessoas», acrescenta João Trabulo no texto de apresentação do filme, para quem este ambiente «poético e imaginário» é «realmente fascinante». Em “Sol Dormente” a neve, o frio e «um certo tipo de passividade» são elementos fundamentais para o desenrolar da história cujos personagens são dominados por uma «violenta pulsação interior» que «parece tolher os seus movimentos e a sua própria criatividade». É esta tensão que alimenta a acção de um filme com o qual João Trabulo espera poder contrariar «uma certa tendência centralizadora e cosmopolita do cinema português, os hábitos instalados da profissão e da crítica jornalística, resistindo a essa lógica desenfreada e absurda do sucesso e da fama que incutem à criação artística e aos próprios artistas».
O jovem realizador nasceu em 1970, é licenciado em Comunicação Social pela Universidade da Beira Interior. Frequentou um “workshop” de Guionismo na Escuela Superior de Ciné de Madrid em 1996, ano em que fez uma pós-graduação em Restauro e Conservação de Filmes na Filmoteca Española (Madrid) e integrou a comissão de investigação de filmes antigos daquele organismo. Dois anos depois tirou o curso de Técnicas de Realização Cinematográfica na FEMIS (Paris) e, em 1999, trabalhou para a Madragoa Filmes. Em 2001 participou no desenvolvimento e na produção de diversas longas-metragens, curtas-metragens e documentários para a Contracosta, nomeadamente nos dois últimos filmes de Pedro Costa “No Quarto da Vanda” e “Où Gît Votre Sourire Enfoui”. João Trabulo realizou ainda um documentário sobre os artistas plásticos Fernando Lanhas e Rui Chafes. Ao contrário do previsto, o realizador não vai participar no debate agendado para depois da exibição da curta-metragem devido a afazeres profissionais, estando no entanto presentes alguns dos actores de “Sol Dormente”.
