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«Só com a cooperação entre cidades é que a Beira Interior se pode afirmar competitivamente»

Cara a Cara – Entrevista

P – O livro “Cidades Médias e Desenvolvimento – o caso da cidade da Covilhã” resulta da sua tese de doutoramento. O que pretendeu exemplificar com este estudo sociológico?

R – Prende-se fundamentalmente com a questão da formação de uma nova urbanidade na cidade e em que medida é representada junto da população residente, de instituições e actores colectivos que têm importância na vida da Covilhã. Procuro perceber como é possível formar uma ideia autónoma, da cidade sobre si própria, capaz de a afirmar no contexto mais global: regional, nacional e internacional.

P – Pretende com isso dar alguns conselhos aos políticos que gerem as cidades?

R – Com a publicação da tese disponibilizei um contributo de conhecimento acerca da cidade para que se conheça melhor a si própria. E de certeza que há contributos muito significativos que poderão ser utilizados por quem gere a cidade, com vista a conhecer e a sustentar melhor as suas decisões para o futuro.

P – O objecto da sua análise foi a Covilhã. As urbanizações da “zona nova” descaracterizam a cidade?

R – Penso que sim. É o mal que caracteriza o planeamento urbano em todas as cidades e não só na Covilhã. Tem-se apostado muito na quantidade, preterindo a qualidade. Isto é grave, porque as cidades do interior poderiam afirmar-se mais e constituir um quadro alternativo às grandes urbes do litoral através de uma oferta de qualidade das novas habitações e espaços públicos.

P – Verifica-se em quase todas as cidades uma desertificação das zonas antigas. Acha possível haver harmonia entre a zona antiga da cidade e a nova?

R – Esse é um desafio para a gestão da própria cidade. Têm que se combinar os atributos antigos e modernos numa forma harmoniosa e integrada para que a cidade seja pensada num todo orgânico. São os centros históricos que dão sentido à própria cidade, porque é daí que emerge a sua própria alma que está ancorada na sua história. Os aspectos modernos têm que estar articulados com o antigo, de forma a acautelar mecanismos de fragmentação entre partes da cidade e, na Covilhã, esta fragmentação é muito evidente. As partes da cidade deveriam ser “cosidas”, articuladas, para dar lugar a um conjunto harmonioso.

P – E como se poderia fazer isso?

R – Desde logo, havendo a noção de que o centro histórico é um atributo que pode e deve corporizar uma ideia de cidade porque é nele que encontramos os ingredientes de identidade das cidades. É necessário uma revitalização económica, social e cultural, no sentido de redimensionar com novas dinâmicas e novas actividades emergentes ligadas ao turismo, à cultura, etc.

P – Defende no seu livro uma forte cooperação das cidades do interior…

R – Sem dúvida. Em zonas de refracção populacional, como é o caso da Beira Interior, ganha sentido repensar as cidades neste contexto. Estas urbes têm atraído população das suas áreas limítrofes, despovoando aldeias em seu redor, e, por outro lado, dado que o sistema urbano nacional está muito centrado nas metrópoles, faz sentido que estas cidades protagonizem estratégias de cooperação conjunta para captar investimentos e equipamentos. A cooperação destas cidades, no eixo Guarda-Castelo Branco, é muito importante porque só assim conseguem irradiar dinamismos e concentrar as massas críticas para o seu desenvolvimento, para que se possam então afirmar-se competitivamente no contexto nacional e internacional.

P – A UBI tem sido essencial para a recuperação da identidade da cidade e para o seu desenvolvimento?

R – Um dos objectivos do meu estudo visava avaliar qual a representação da Covilhã. Isto é, que ideia vem à cabeça das pessoas quando se fala na cidade. Constatei que há uma trilogia (serra, UBI e lanifícios) que caracteriza a Covilhã, sendo a UBI o universo deste triângulo por entrar muito na formatação da identidade da cidade quer pela recuperação dos edifícios, como na dinamização da vida cultural e social com implicações económicas. Atraiu novos grupos sociais para uma cidade pequena e isto traz novas formas de vida e de comportamento, fazendo com que toda a vida urbana tenha influências da UBI. O próprio futuro da Covilhã também depende muito desta ligação.

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