Este mês, o Serviço Nacional de Saúde completou 37 anos. As comemorações nacionais, realizadas em Coimbra, deram nota da vontade da tutela em desenvolver, aperfeiçoar e consolidar o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Até aqui nada de novo. Dia 15 de setembro, data de aniversário do SNS, decorreu um Conselho de Ministros extraordinário exclusivamente dedicado ao setor. O dia foi pleno de comemoração e foi perpetuado o incomensurável papel que o Dr. António Arnaut teve e tem em prol do SNS, com um monumento em seu tributo erigido junto ao auditório dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Nesse dia festivo, perante uma sala repleta de atuais e antigos dirigentes governativos da Saúde e perante as mais altas figuras do Estado português, António Arnaut não se coibiu de sublinhar: «A verdadeira sustentabilidade do SNS está nos seus profissionais», contrapondo ao distanciamento dos governantes e até ao seu desconhecimento da realidade no terreno.
Não estávamos habituados a que uma personalidade política defendesse desta forma e com tanto empenho, argúcia e lucidez, a sustentabilidade do SNS. Ora, a realidade nos últimos anos, infelizmente, não tem sido consentânea com essas sábias palavras do fundador do Serviço Nacional de Saúde.
Atualmente, ao que consta, a única preocupação é a saúde financeira. Os doentes não passam de números e a pessoa é reduzida à escala da despesa menor ou maior. Ou seja: a única preocupação é numérica e matemática. Está-se a perder, assim e quase sem darmos conta, o sentido humano. Pouco conta a pessoa e o seu sentido da vida. Conta o impacto financeiro que a pessoa tem sobre o orçamento.
António Arnaut voltou a colocar o acento tónico na humanização da Saúde. Mas foi ainda mais longe. Centrou-a na importância dos profissionais: médicos, enfermeiros, técnicos e todos os outros no contexto da sustentabilidade do SNS. É certo que a parte económico-financeira é fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento do sistema público de saúde. Isso é indiscutível.
Porém, tem existido uma tendência para desvalorizar a importância dos profissionais de saúde que, todos os dias, se esforçam para manter e aumentar a qualidade dos cuidados de saúde. Daí que o apelo, emotivo, do Dr. António Arnaut tente recuperar o sentido mais hipocrático da medicina para valorizar a relação entre o profissional de saúde e o seu doente. E é à volta do doente que tem de se centrar o SNS.
É absolutamente essencial valorizar o trabalho dos profissionais de saúde. São eles os obreiros de uma Saúde de face humana preparada para os desafios mais exigentes!
Por: Carlos Cortes
* Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos