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Silo-auto do Jardim José de Lemos atrasado

Câmara comprometeu-se com Associação Comercial por causa do futuro parque subterrâneo junto à escola de Santa Clara

A Câmara da Guarda decidiu desenvolver em simultâneo os concursos públicos dos dois futuros silos-auto, a construir sob o Jardim José de Lemos e o Largo Dr. João Soares, junto à escola de Santa Clara. A decisão resulta de um compromisso assumido por Maria do Carmo Borges com a Associação Comercial e implica um novo atraso na concretização do parque de estacionamento subterrâneo do jardim, que já devia estar por esta altura na fase da adjudicação do projecto definitivo ao vencedor, a fazer fé nos “timings” apresentados em Setembro na reunião do executivo que aprovou por unanimidade o caderno de encargos e o programa do concurso público para a concepção, construção e exploração daquela infraestutura. Resultado, as construtoras interessadas têm até 16 de Março para apresentar propostas, estimando-se que as primeiras obras possam avançar, na melhor das hipóteses, no início do Verão.

De acordo com Esmeraldo Carvalhinho, vereador com o pelouro do trânsito, a Comercial da Guarda terá manifestado receio de que a concretização do primeiro projecto de estacionamento subterrâneo na cidade viesse a inviabilizar o segundo – idealizado para compensar o desaparecimento de 300 lugares com a requalificação da Praça Velha – e obteve a promessa da presidente da Câmara de que os dois iriam ser lançados ao mesmo tempo. «O compromisso é avançar em simultâneo e construir os dois silos na mesma altura», refere o vereador, recordando tratar-se de duas obras sem custos para o município. Esmeraldo Carvalhinho adianta ainda que a fase burocrática do processo está a avançar «com normalidade» e que a autarquia vai solicitar autorização ao Ministério da Educação para poder trabalhar no subsolo contíguo à escola. «O que está em causa é servir a cidade com estacionamento e julgamos que com estes projectos a questão vai ficar resolvida», acrescenta o autarca, para quem o empreendimento junto à EB de Santa Clara vai servir «com mais facilidade» o centro histórico. O que vai satisfazer as reivindicações dos comerciantes daquela zona da Guarda, que têm reclamado uma alternativa subterrânea de estacionamento desde o início das obras de requalificação da Praça Velha e o fim de 300 lugares ao ar livre no “coração” da cidade.

No concreto, o futuro silo-auto do Largo Dr. João Soares, aprovado na Assembleia Municipal de Dezembro, vai ser construído em regime de concepção, construção e exploração. A Câmara estima que a implantação do parque possa fazer-se até três pisos para uma capacidade de 500 veículos, entre o ISACE, o largo e a zona do Solar de Alarcão, nas imediações da Sé Catedral. E ressalva que «em caso algum a capacidade do parque poderá ser inferior a 60 por cento da capacidade base indicada», refere o caderno de encargos, a que “O Interior” teve acesso. Já o montante da renda a pagar anualmente ao município pela constituição de direito de superfície (de 50 anos) será uma percentagem fixa – ainda não divulgada – das receitas brutas de exploração sem IVA. De resto, as obras têm um prazo de execução de 12 meses. No caso do Jardim José de Lemos, os trabalhos têm duração idêntica, estipulando-se um mínimo de 450 lugares distribuídos por dois pisos. A intervenção implicará ainda uma profunda reabilitação urbana da área, que engloba o Jardim José de Lemos e as fachadas envolventes até à zona dos Paços do Concelho devido aos acessos pedonais. O arranjo de superfície é mesmo um dos requisitos preponderantes para a construção do silo-auto no Jardim José de Lemos, ficando a empresa que vier a ser escolhida condicionada a manter os monumentos ali existentes, um espaço ajardinado e a reabilitar urbanisticamente toda a zona intervencionada.

Silo junto a Santa Clara é uma «falsa solução»

«Construir um silo-auto junto à escola de Santa Clara é como instalar um parque de estacionamento subterrâneo no deserto». A afirmação é de Luís Soares, técnico superior da Câmara responsável pelas obras rodoviárias, que duvida da eficácia da opção encontrada pela autarquia e o PolisGuarda para suprir a falta de estacionamentos na zona histórica da cidade. «Apesar de ser uma forma de tentar resolver o problema, é uma falsa solução porque só vai servir os estabelecimentos escolares vizinhos, o cemitério e pouco mais», suspeita o engenheiro. Luís Soares, adepto incondicional de um parque subterrâneo na Praça Velha, acredita que «o mercado» vai dar-lhe razão e «nenhuma empresa aparecerá para o construir porque o silo vai ficar vazio». A explicação é simples: «Se for o conceito tradicional do quadrado, com vários pisos, não é possível nem rentável e muito menos atractivo para as empresas. Até porque não conheço nenhum estudo que sustente aquela opção», adianta. Para o responsável pelas obras rodoviárias do município, a Guarda precisa de dois parques subterrâneos «para fazer a cobertura da zona carenciada». Mas se concorda com o projecto do Jardim José de Lemos, discorda «frontalmente» do projecto para o Largo Dr. João Soares por acreditar que não vai servir ninguém. «Ali, a procura não existe nas proximidades e há alternativas em superfície. Mas o pior é que fica deslocalizado do centro histórico, que supostamente deveria servir», sustenta Luís Soares, garantindo que aquele parque «não é solução» para a dinamização da zona histórica da cidade.

Luis Martins

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