por Elsa Salzedas*
Porque se aproxima o Dia dos Namorados, dia de grandes festividades em meios escolares, gostaria de refletir sobre uma notícia que circulou nos nossos computadores há uns tempos e que referia “SEXO: Pausa no estudo pode fazer toda a diferença. Mais do que nunca os rapazes vão gostar da época de exames! As raparigas têm grandes probabilidades de terem melhores notas se tiverem sexo regularmente e em especial na época de exames ” e ainda “ Nas mulheres, uma vida sexual regular leva à segregação de uma hormona chamada oxitocina, a qual tem um efeito positivo sobre o humor. Também ajuda a combater o stress, o que ajuda muito na época de exames.”
Ora, os meus alunos do 12º ano, que já abordaram este assunto nas aulas, sabem muito bem quais as substâncias que o organismo produz na paixão, numa relação emocionalmente envolvente, devido à ativação do sistema límbico, mas o sexo, só por si, não desencadeia nada disto, caso contrário os profissionais do sexo seriam as pessoas mais felizes do mundo, ao contrário daquilo que realmente acontece.
Esta notícia é facciosa, em primeiro lugar porque aborda apenas a faceta feminina e em segundo lugar porque introduz a ideia que é normal e desejável ter intensa atividade sexual neste período da vida.
Partindo do princípio que realiza exames quem é estudante e que a vida de estudante após a puberdade, normalmente, decorre entre os 14 e os 22 anos de idade, estamos aqui a incluir uma faixa etária que está em crescimento, em formação, que privilegia novas experiências, novas aprendizagens e também novos relacionamentos; os adolescentes e os jovens são assim inconstantes, inconsequentes e psicologicamente instáveis, pois estão em crescimento. Se acrescentarmos a tudo isto intensa atividade sexual, teremos elevada troca de parceiros e está instalado o cenário para a proliferação das doenças sexualmente transmissíveis. Alguns dos agentes causadores destas doenças, como o vírus HPV, pode permanecer alojado no organismo durante décadas, manifestando-se muito mais tarde, num período de debilidade. Os estragos que causa no organismo são incomensuráveis, podendo levar à morte.
A referida notícia ainda acrescentava que “Estudar fica mais suportável, o mau humor é menos notório e a concentração mais elevada. Tudo fatores que ajudam as raparigas que têm sexo regularmente a ter melhores notas que as suas colegas menos ativas.”
Uma relação afetiva é importante e desejável para a maioria dos jovens, pois, para além de ajudar a crescer, fortalece a autoestima, mas relação afetiva e atividade sexual são coisas muito diferentes. O nosso maior órgão sexual, o encéfalo, é intensamente ativado pelas relações afetivas, com a produção de oxitocina, serotonina, noradrenalina, feniletilamina e dopamina; estas substâncias interferem no nosso corpo, de forma brutal; por isso a paixão é uma experiência brutalmente envolvente, em que mergulhamos euforicamente numa deliciosa tortura e não comemos nem dormimos. É das poucas ocasiões em que mantemos elevados, em simultâneo, os níveis de Dopamina, Feniletilamina, Oxitocina e norepinefrina. Se alguém conseguisse converter esta química num comprimido, ficaria milionário. Nos jovens, o organismo está em “ estado de sítio”, porque está apaixonado e não porque tem atividade sexual.
*professora