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Corta!

O assunto é dos mais polémicos que o Cinema já abordou em muitos anos. Quando Spielberg fez A Lista de Schindler, sendo ele judeu, algumas vozes se levantaram em protesto, considerando a falta de parcialidade que a visão do filme traria. Não querendo sequer entrar em opiniões mais aprofundadas acerca da importância, ou falta dela, que uma questão como parcialidade tem num filme de ficção, tais vozes pouco eco tiveram. A História há muito que definiu quem foram os bons e os maus no momento histórico retratado nesse filme. Assim sendo, tudo se torna mais fácil. Essa clivagem entre bons e maus sempre foi do agrado de Hollywood, ou de todos os Estados Unidos, que parecem, muitas das vezes, não saber lidar com todos os tons de cinza existentes entre essas duas cores opostas.

Mas que dizer de Munique, o mais recente filme de Steven Spielberg, o realizador que durante anos nos habituou a filmes como Encontros Imediatos de Terceiro Grau, E.T., Parque Jurássico, mas que, por vezes, lá pega em assuntos menos cómodos, colocando meio mundo (aquele que dificilmente se deslocaria ao cinema para ver o seu outro cinema) a falar dele? Em Munique, Spielberg arriscou mostrar algo demasiado recente. Algo que está ainda em carne viva, com demasiadas feridas por sarar. Aqui ainda não há bons nem maus, ou melhor, a noção de bons e maus muda conforme o ponto de vista de cada um. A História ainda não tomou uma decisão que possa facilitar qualquer tomada de posição, por todos aqueles que apenas seguem a maioria, ou o estabelecido, como se também a História fosse como grande parte do cinema americano, apenas com bons e maus e nada mais no meio.

Os atentados na Cidade Olímpica de Munique em 1972, são considerados por muito o início do terrorismo. Foi ali que tudo começou. Ali, em Setembro de 1972, quando um grupo de palestinianos rapta um grupo de atletas israelitas, acabando por morrer todos os onze atletas. Mas tudo poderia não ter passado disso, um atentado terrorista, com todas as implicações e gravidade que tal acto acarreta sempre. No entanto, Israel decide responder da mesma forma e decide matar todos aqueles que estiveram ligados a esse atentado. É tudo isso que Spielberg mostra em Munique, ao longo de quase três horas de filme.

O filme começa de forma estonteante, a fazer lembrar, com as devidas diferenças, o início do seu filme anterior A Guerra dos Mundos. O espectador ainda não teve sequer tempo de encontrar a melhor posição na sua cadeira e já o filme está a decorrer a grande velocidade. Depois, a estrutura encontrada faz lembrar uma série televisiva em que o assassínio de cada um dos palestinianos é tratada de forma bem distinta, cada um com o seu tipo de reviravoltas e dificuldades, como se cada uma dessas tentativas de assassínio fosse um episódio semanal de uma qualquer série televisiva semanal. Entre altos e baixos, o filme não consegue manter sempre o mesmo nível até ao fim, existindo mesmo alguns momentos em que o filme se parece arrastar sem ir a lado nenhum. No final descobrimos que Spielberg foi ainda mais ambicioso, não se ficando apenas pelo terrorismo ocorrido nesse Setembro de 1972 em Munique. É todo o terrorismo que está aqui em análise, numa visão onde não existem, como habitualmente, os bons e os maus. Em Munique, por receio ou opção, Spielberg tenta mostrar que não existem bons de um lado e maus do outro. Afinal todos são bons e maus. Todos diferentes, todos iguais, apetece dizer. Por instantes até já sinto saudades dos filmes onde percebíamos quem eram os bons e quem eram os maus. Aqui, tudo fica a meio. O politicamente correcto também já chegou ao cinema.

Por: Hugo Sousa

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