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Serra da Estrela: Mitos e Realidades

Quando o estado, em 1971, criou a TURISTRELA, SARL ao abrigo do Dec-Lei, nº 325/71, apostou num MITO (I): aquela empresa deveria e poderia potenciar o desenvolvimento turístico de toda a região, combatendo a degradação do património natural por um lado e tornando-a num destino turístico, por outro.

Ao impor em 1986 ao Fundo de Turismo a saída gradual do capital da TURISTRELA criando “meios legais destinados a permitir à concessionária uma actuação mais expedita” (preâmbulo do Dec.-Lei 408/86 de 11.12.86), criou mais um MITO (II): o de que a iniciativa privada poderia e deveria ser o motor do desenvolvimento turístico da região da Serra da Estrela.

Ao atribuir à concessionária TURISTRELA, S.A. condições excepcionais para a sua exploração numa área de cerca de 40.000 ha durante 60 anos (!), benefícios fiscais de toda a ordem e exclusividade total nos investimentos naquela área criou-se mais um MITO (III): o de que estariam reunidas as condições para, com a iniciativa privada a Serra da Estrela ser a âncora da Região.

Mais recentemente, ao permitir que a concessão fosse trespassada em conjunto com a transmissão das acções aos actuais accionistas da TURISTRELA, S.A. criou mais um MITO (IV): o de que um grupo com a dinâmica que lhe era reconhecida, poderia de uma vez por todas mudar a face do “recurso” Serra da Estrela.

Também assim pensou quando celebrou um Contrato-Programa com os actuais accionistas da TURISTRELA e um novo MITO (V) nasceu: Juntando ao dinamismo empresarial o apoio público, transcrito num Plano de Acção, tudo seria mais fácil! E mais fácil seria ao transformar a entrega do Sanatório à ENATUR como um acto de “benemerência” da TURISTRELA: que nele estava obrigado a construir uma unidade hoteleira por o ter recebido do Ministério da Saúde por 1 (um) escudo! E porque não facilitar ainda mais a “vidinha” à TURISTRELA oferecendo em 2002 de mão beijada, as rendas do agora conspurcado Centro Comercial da TORRE (construído com dinheiros públicos) retirando as receitas ao PNSE!

A própria TURISTRELA, S.A. criou vários MITOS ao longo dos últimos anos e com a actual Administração: (VI) um aldeamento de montanha tipicamente finlandês! (VII) mais um no Covão da Ponte (700 camas); (VIII) recuperação das torres da Força Aérea para um hotel; (IX) instalação de três telecabines; (X) construção de um SPA “tibetano” nas Penhas da Saúde; (XI) construção de uma pista de ski artificial e coberta em Gouveia; (XII) uma mini-caIdea nos PIORNOS; (XIII) um multiusos nas Penhas; (XIV) um aparthotel na zona do Parque do Montanhismo; (XV) um centro de treinos nas Penhas e, (XVI) um aparthotel na zona dos Carquejais!

Um “fantástico” e surpreendente conjunto de investimentos cujo valor total é de perder a conta para não falar do último MITO: transformar o ex- Sanatório num hotel 5 estrelas recuperando o projecto do Arqtº Souto Moura (pago, entretanto, com dinheiros públicos)!

Infelizmente as realidades são bem diferentes: Nem o Grupo Pestana nem qualquer outro grupo investirá numa zona onde a “massificação” parece ser o objectivo do concessionário actual. A Pousada perdeu-se!

A situação de monopólio criada com a actual Concessão não promove a qualidade no “recurso” turístico Serra da Estrela (diga-se recurso e não destino turístico, por favor). Antes pelo contrário: favoreceu a mediocridade, a imposição de preços incompatíveis com a qualidade de serviços prestados e, sobretudo, não permite aquilo que é mais importante para transformar a Estrela num destino turístico: ter produtos turísticos estruturados e promovê-los numa base de estreita cooperação.

O próximo governo que bem conhece algumas das questões enunciadas terá que questionar a manutenção do actual Contrato de Concessão, prejudicial a todos quantos têm investido e que continuam a investir na cordilheira da Serra da Estrela.

E, quanto a credibilidade é melhor não falar pois sobre os predicados da TURISTRELA, S.A. e do seu desempenho na actividade turística bastará exibir o (s) Livro (s) de Reclamações. Pessoalmente, não consigo também equiparar-me ao elevado nível de credibilidade e notoriedade do Sr. Administrador daquela empresa, Sr. Artur Costa Pais: os factos falam por si!

Por: Luís Veiga

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