P-Que opinião tem sobre este novo processo de descentralização?
R-Não acredito que esta tentativa de regionalizar o país vá funcionar. O grande objectivo deste processo era criar regiões intermédias, relativamente poucas, e hoje constatamos que a criação de comunidades urbanas são mais que os actuais municípios. Creio que ninguém neste momento já leva a sério essa criação e é por isso que as pessoas não estão muito preocupadas. Quase todos já interiorizaram que este processo não vai sair do papel. Além disso, falta existir a eleição directa de representantes. Nestas comunidades continuamos apenas a ter representantes cuja legitimidade não é regional, mas apenas municipal. Não alteramos em nada o problema. Este processo é uma má solução para um problema que é verdadeiro. Só posso ver neste processo uma coisa boa: o seu insucesso motivar uma discussão com seriedade e construir um puzzle regional que possa mobilizar as vontades não só de políticos e autarcas, mas também das pessoas.
P-Na sua opinião, o Fundão deveria juntar-se à Guarda ou a Castelo Branco, ainda para mais quando Penamacor já passou para a comunidade a norte?
R-A posição do Fundão continua em aberto, mas o município tem um conjunto muito vasto de interesses e de projectos que estão em curso que ligam muito fortemente o Fundão a Castelo Branco. O Fundão tem muito mais coisas que o ligam a Castelo Branco do que à Guarda. Acho que saímos todos a perder ao quebrar este eixo entre a Guarda e Castelo Branco, que traria vantagens competitivas para todos. O eixo entre os dois distritos através da A23 poderia ser mobilizador e estruturante para um novo tecido regional. Sairíamos todos a ganhar. Acho que a Guarda e Castelo Branco se assustaram com a possibilidade da centralidade da Covilhã, pois desde o princípio do século passado que a Covilhã reivindica ser sede de distrito. Isto é uma visão um pouco ridícula da situação. Estamos aqui a ver as coisas como uma luta por competências entre A, B ou C sem percebermos que se cada um tivesse competências diferentes sairíamos todos a ganhar. Infelizmente temos esta tendência de querer ter as competências dos outros.
O ideal seria criar uma comunidade que englobasse os distritos de Castelo Branco e da Guarda. Sendo isso impossível, partilho uma extensa fronteira com Castelo Branco.
P-Mesmo com uma ligação à Médio Tejo?
R-Por isso é que o Fundão não tomou ainda nenhuma decisão. Creio que as decisões têm que ser feitas ponderando bem as vantagens e os benefícios que qualquer das ligações possa ter para o município.
P-Que análise faz ao trabalho do executivo PSD?
R-Na minha opinião é positivo. O executivo municipal tem feito aquilo que a nível nacional o PS tem exigido do Governo: não se preocupar com o défice que é apenas um espelho de uma realidade e criar riqueza com investimento. Este executivo tem conseguido fazer investimento em termos municipais, quer na sede do concelho como na generalidade das freguesias. Aliás, nota-se o contentamento a esse nível da generalidade dos presidentes de junta de freguesia. Tenho que ser coerente com a linha do meu partido. O PS exige que se faça investimento. E é isso que tem sido feito a nível municipal. Por cada euro de endividamento, o investimento é consideravelmente superior.
P-O PSD está a fazer o investimento que durante anos o PS não fez no Fundão?
R-Foi feito o investimento possível. Por vezes comparamos realidades que não são comparáveis. Hoje existem mecanismos de acesso a financiamentos que na altura não tínhamos. Fomos para o município do Fundão num determinado ciclo, em que a aposta era criar as infra-estruturas básicas. A maior parte das freguesias não tinham sequer acesso aos autocarros nem estradas que o permitissem. O PS concentrou os seus esforços e completou esse ciclo. O problema é que não soubemos arranjar as pessoas certas para se fazer uma mudança de ciclo. Isso descontentou os eleitores que tentaram procurar novos protagonistas. O PSD, depois de ter estado afastado da Câmara durante alguns anos, tem agora um ciclo para colocar os projectos em execução. Vamos ver a capacidade dos seus representantes para manter o ritmo. Para já, não merece da minha parte críticas muito acesas.