«Isto é um roubo, um assalto». A indignação tomou conta de Manuel e Irene Adaixo ao constatarem que tinham sido enganados em 37.500 euros por um empreiteiro com quem assinaram um contrato de compra e venda de um apartamento, no valor de 82.500 euros, localizado na Rua António Sérgio, mesmo em frente à Central de Camionagem da Guarda. Entretanto, avançaram com um processo em tribunal quando souberam que o construtor tinha deixado o país. Agora, o apartamento, que continua por concluir, deverá ser vendido em hasta pública, a última esperança do casal, que se viu forçado a morar na Quinta do Silva (Jarmelo), para receber de volta uma parte do dinheiro perdido.
Tudo começou em 1999, quando Manuel, de 69 anos, e Irene Adaixo, de 66, venderam o andar onde habitavam para comprar um T1 ao empreiteiro Carlos Pais por 82.500 euros numa zona do «nosso agrado», frisam. Inicialmente, entregaram uma quantia de 17.500 euros como sinal, a que se seguiram mais 20 mil quando o telhado ficou concluído. Contudo, desde cedo que as coisas não entraram pelo melhor caminho, pois tinha ficado acordado que o apartamento seria entregue em Junho de 2000: «Aquilo arrastou-se , arrastou-se e as obras não andavam», recorda Manuel Adaixo, lembrando que a certa altura nem a escritura conseguiram fazer. «Ele prometia, prometia, dizia que as coisas estavam a andar, mas isto arrastou-se durante quase cinco anos e nunca chegou a entregar o apartamento. Antes pelo contrário, fugiu, foi-se embora…», acusa, num misto de indignação e resignação pelo infortúnio. «Estamos revoltados com tudo isto. No início foi um choque muito grande. Já viu o que é perder-se assim tanto dinheiro, nem comido, nem bebido?», questiona o comprador.
«É uma situação terrível. Para quem ganha o dinheiro com tanto sacrifício, como nós ganhámos, é muito duro», reforça a esposa, lamentando-se pela perca de parte do que juntaram ao longo de uma vida de trabalho. Uma «vigarice» que “apanhou” mais gente, «alguns até com dois andares», refere Irene Adaixo, que se lamenta de ter «confiado plenamente» no empreiteiro e ter ficado sem nada. «A nossa situação é má, mas ainda há piores», garante. Conta de resto que Carlos Pais terá alegadamente vendido andares por «duas vezes» a pessoas diferentes. No entanto, parte do seu problema esperam resolvê-lo no tribunal, para onde interpuseram uma queixa quando souberam que o empreiteiro tinha deixado o país, supostamente para o Brasil. Uma audiência está marcada para 6 de Maio e esperam «pelo menos algum pronúncio do juiz acerca do que se vai passar», diz o lesado. Decretada a falência da firma de Carlos Pais, o apartamento, tal como o prédio, estão actualmente na posse do tribunal, que os deverá vender em hasta pública para liquidar as dívidas e resolver este imbróglio.
Mas mesmo assim, as esperanças de reaver o dinheiro são muito poucas. «Se vier é um bocado sem jeito, porque ele tem muitas dívidas», lamenta Manuel Adaixo, consciente de que se receber uma terça parte «já será muitíssimo bom», uma vez que o dinheiro vai para «um “bolo” onde todos vão buscar uma fatia e vai restar muito pouco». Garantindo possuir fotocópias dos cheques e o contrato de compra e venda assinado, este casal lesado só tem agora que esperar pela decisão do tribunal. «É uma revolta muito grande porque não há justiça neste país. As Finanças e a Segurança Social não podem ficar sem o dinheiro, mas eu, que o ganhei com tanto suor, tenho que ficar sem ele. E agora não sei o que comprar porque tudo custa um dinheirão. Fiquei sem o dinheiro e sem casa», desabafa Irene Adaixo.
Ricardo Cordeiro