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Selecção Natural

1. O recente post de Vasco Pulido Valente no blogue “O Espectro” sobre Clara Ferreira Alves levanta algumas questões curiosas. Antes de mais, diga-se que é fundamental para a saúde do espaço público que existam espíritos livres como é o caso de VPV. Sobretudo quando as hordas politicamente correctas, alapadas nos seus bastiões, conseguem policiar as consciências ou os modelos de vida não coincidentes com a ortodoxia com uma eficácia que faria corar a Gestapo. Veja-se o que aconteceu com o reitor de Harvard, obrigado a demitir-se, depois de um trabalho exemplar, por causa de umas afirmações inócuas proferidas numa conferência, com base em números e como simples referência, acerca da preferência das mulheres por determinados tipos de cursos. Creio que o ataque a CFA não foi propriamente ad hominem. A dita senhora funciona aqui como exemplo paradigmático de uma forma peculiar de luso desenrascanço (o deslumbramento pacóvio com destinos turístico-literários é digna do célebre ensaio de Pessoa sobre o provincianismo), da erudição saloia que tem que ser exibida a todo o custo, da alarvidade politicamente correcta como arma de arremesso, da “rapariga para todo o serviço” das novidades literárias na língua de Yeats…Como subiu ou desceu na vida pouco me interessa. Se assim não fosse, só daria razão a José Gil acerca da inveja. Interessa sim saber quem é e qual a relevância pública desta senhora: crítica literária? Deixem-me rir; investigadora? Já me dói o estômago; autora? Já rebolo no chão. Clara quê?

2.O Carnaval está a tornar-se uma festividade cada vez mais pindérica. Basta ver essas batucadas pseudo cariocas por esse país fora, onde se consomem recursos avultados e os resultados são de uma previsibilidade bocejante. Talvez ainda sobrevivam algumas tradições genuínas em pontos isolados. Mas o panorama geral é todos os anos de uma apagada e vil tristeza…

3. O nosso MNE, Freitas do Amaral, revelou-se à altura dos sofistas: uma coisa pode e não pode significar o seu contrário. Bravo! Esclareça-se que, até às recentes e inusitadas declarações sobre a tempestade lançada pelos cartoons dinamarqueses, agora explicadas ao povo e contadas às criancinhas na sua peroração na AR, dele só tinha lido a sebenta de Direito Administrativo, na FDL, em 4 volumes… Espero bem que os dinamarqueses tenham assobiado para o ar com as suas rapaziadas terceiro-mundistas! Se a trapalhada e a irresponsabilidade pagassem imposto, o Professor teria que se munir de uma réplica do super-computador que o fisco norte-americano usa para calcular os proveitos do Bill Gates…É preciso topete!

4.Recentemente, a fim de ser divulgado na agenda cultural municipal um evento nesse âmbito em que estou envolvido, forneci ao NAC a respectiva informação em tempo útil, como sempre fiz. Qual não é o meu espanto quando, ao examinar a folhinha minimalista que agora saiu, “fazendo as vezes” da defunta agenda, desse evento, nem sinal. Dirigi-me ao NAC, onde me foi dito que só divulgavam “realizações promovidas pela Câmara” (sic). Não sei se esta história de mau gosto se deve a restrições orçamentais, ou à falta de coordenação entre os serviços desta pesada máquina, que consome recursos avultados, pagos pelos contribuintes, e nem sequer cumpre o seu objectivo mais básico – divulgar as actividades culturais das colectividades e munícipes, limitando-se a propagandear as suas próprias actividades, qual Narciso contemplando o seu rosto no rio Letes. Uma coisa é certa: vergonhoso!

Por: António Godinho

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