A Carta Educativa da Guarda não traz «boas notícias», avisa António Rochette face ao diagnóstico sócio-demográfico que lhe esteve subjacente. Das 55 freguesias do concelho, há duas onde não nasceu nenhum bebé nos últimos seis anos e 31 com menos de duas crianças nascidas em média por ano, enquanto 19 registaram menos de um bebé. E exemplifica: «Em Monte Margarida a pessoa mais nova tem 24 anos e o casal mais “jovem” tem 65 anos».
Em contrapartida, a população jovem está a crescer exponencialmente na área urbana, a tal ponto que quando acabar o desdobramento de horário, já no próximo ano ou no seguinte, «não teremos sítios para colocar cerca de 300 crianças», alerta o professor do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Coimbra, que coordenou a elaboração da Carta. O documento, apresentado na passada sexta-feira, durante uma conferência do Centro de Estudos Ibéricos, já foi ratificado pelo Conselho Municipal de Educação e deverá ir brevemente à sessão de Câmara para aprovação e posterior implementação, ao que tudo indica já no próximo ano lectivo. Trata-se de um retrato exaustivo e minucioso da rede escolar do concelho, mas também das comunidades envolventes. «A actual rede educativa tem meio século de existência e, actualmente, temos falta de espaço nas escolas da cidade enquanto há dezenas de estabelecimentos em risco na área rural com menos de 10 alunos», constata António Rochette, acrescentando que a Carta contém uma análise prospectiva da população até 2021. «A reorganização proposta baseia-se num ensino pré-escolar de proximidade e num primeiro ciclo de qualidade», anuncia.
Assim, vão manter-se um conjunto de escolas, principalmente na cidade, enquanto outras serão requalificadas com refeitório e biblioteca. Mas a novidade está no aparecimento de centros educativos, com os primeiros graus de ensino, na Sequeira e Guarda Gare, na cidade, Gonçalo, Porto da Carne e Vila Garcia ou Vila Fernando. «Trata-se de garantir a igualdade de oportunidades que não existe neste momento. Veja-se a taxa de abandono escolar dessas crianças e a sua dificuldade de integração no sistema educativo a partir do 2º ciclo», aponta. Contudo, o coordenador garante que não se trata de «construir “elefantes brancos”».