Arquivo

Seia revoltada com Luís Filipe Pereira

Ministro da Saúde voltou a adiar visita ao hospital, autarquia pondera ir a Lisboa

Eduardo Brito ameaça ir a Lisboa falar com o ministro da Saúde e levar consigo «um ou dois autocarros» cheios de senenses se Luís Filipe Pereira não vier a Seia explicar «o papel que o actual Governo reserva ao hospital Nossa Senhora da Assunção no âmbito dos equipamentos de saúde do distrito». O aviso surgiu no final da semana passada após o terceiro adiamento da visita do governante à cidade e ilustra a insatisfação e descontentamento generalizado provocado pela notícia na sociedade senense. «Enxovalho», «desconsideração» e «grande falta de vergonha» são as palavras mais ouvidas nos últimos dias em Seia, onde PS, PCP e a autarquia já criticaram duramente a atitude do ministro. Já a concelhia do PSD poderá demitir-se esta quinta-feira em consequência de mais este adiamento.

O anúncio de que Luís Filipe Pereira já não vinha ontem visitar o hospital local caiu que nem uma bomba. Em causa está a construção de um novo edifício que substitua as actuais instalações do Nossa Senhora da Assunção, com 73 anos de existência, uma reivindicação que estes percalços parecem fortalecer cada vez mais. O presidente da Câmara diz-se «mais determinado que nunca» e que não é esta «marginalização» do ministro que vai fazer desistir os senenses. «Nós vamos ter um hospital demore o tempo que demorar», garante, receando, no entanto, que a tutela esteja a «adoptar uma política de deixar morrer lentamente o hospital». Para Eduardo Brito, o importante é que o Governo «diga de uma vez por todas» o que quer fazer nesta matéria para que o município possa pensar noutras soluções. Contudo, diz não acreditar que «com tantos TGV’s, pontes e auto-estradas não haja uns míseros milhões de euros para fazer um novo edifício em Seia, que é fundamental para sermos menos interior e termos um concelho mais desenvolvido». O problema é que a decisão tem que ser tomada com «urgência», uma vez que o actual hospital «não tem condições e está a passar um momento como nunca passou», avisa, considerando um «enxovalho» ao concelho o facto de Luís Filipe Pereira ter passado recentemente por Gouveia e não ter visitado Seia, «que é uma dezena de quilómetros ao lado». Agora, o autarca já não tem dúvidas que o objectivo é «desmoralizar» a população e «desvalorizar» o município.

PSD avisa que «há promessas a cumprir»

Quem parece estar disponível para assumir as consequências deste impasse é a concelhia social-democrata. O dirigente e vereador do PSD na Câmara, Tenreiro Patrocínio, confessa estar «desagradado» com este novo adiamento, sobretudo porque «há que cumprir as promessas e Seia necessita urgentemente de uma solução para as más condições do edifício em que funciona o hospital». Tanto assim que admite a possibilidade da demissão da estrutura local face «aos sucessivos adiamentos da deslocação do ministro da Saúde e de uma tomada de decisão sobre o hospital de Seia», um assunto que será hoje debatido numa assembleia de militantes convocada propositadamente. Para o PS senense, é tempo dos social-democratas e do Governo assumirem as suas responsabilidades. «Há dois anos não paravam de prometer um novo hospital, até assinaram documentos a garantir a construção, mas agora querem negar a Seia o direito de ter um novo edifício», refere um comunicado da concelhia, que apela ao «empenhamento de todos» contra a «estratégia de levar à morte lenta o nosso hospital para que surjam e floresçam outras iniciativas privadas noutros concelhos».

Para o PCP, a atitude de Luís Filipe Pereira e dos deputados do PSD eleitos pelo círculo da Guarda – «que votaram contra a inclusão desta obra em PIDDAC» – é uma «grande falta de vergonha e uma total falta de respeito» para com a população. Num comunicado da concelhia, os comunistas senenses juntam-se ao coro de protestos e querem saber por que é que o ministro «tem medo de visitar o hospital de Seia», apelando também à mobilização de todos «para fazermos sentir a nossa revolta a semelhante discriminação». De resto, o PCP desconfia que o governante não queira vir à cidade para evitar «ser confrontado com a grossa mentira de ter afirmado publicamente que desconhecia a situação do hospital de Seia, quando essa realidade é do inteiro conhecimento do seu ministério». Entretanto, a presidente do Conselho de Administração do hospital anunciou que condiciona a sua continuidade à frente da unidade à construção de um novo edifício hospitalar. Margarida Ascensão lembrou o «estado de ruptura» das actuais instalações, que «não têm espaço físico suficiente face à crescente procura» e recordou que os projectos apresentados à Administração Regional de Saúde do Centro para a realização de melhorias no edifício não têm sido concretizadas devido à falta de verbas. Citada pela agência Lusa, fonte do gabinete de Luís Filipe Pereira explicou que o adiamento da visita ficou a dever-se «à realização do Conselho de Ministros na quarta-feira», mas adiantou ser intenção do governante deslocar-se a Seia «até ao final do ano».

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply