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Santana recebe cajado e manta serrana para guiar o rebanho

O primeiro discurso oficial da campanha laranja foi na Rapa, Celorico da Beira, em cima de um carro de bois, no passado domingo

«A festa está grande, o pior é se faltam os convidados», ironiza Albertina Cardoso, 65 anos, habitante da Rapa, concelho de Celorico da Beira, que da sua casa avista os últimos preparativos da festa laranja. Sentada na sacada de sua casa, enquanto espera a chegada de Pedro Santana Lopes, Albertina Cardoso diz não ter um partido favorito, até porque «são todos iguais». Porém, confessa que até gosta do líder laranja, mas não está muito curiosa, porque o «vejo todos os dias na televisão».

Com quase duas horas de atraso, o líder do partido social-democrata chegou ao Lagar de Azeite da Rapa, no início da tarde do passado domingo. À sua espera estavam pastores, produtores de queijo, apoiantes locais e os rufo dos Bombos do Baraçal. Esperavam-no também os candidatos pelo círculo eleitoral da Guarda, elementos da JSD, bem como o secretário-geral do partido, Miguel Relvas, o Ministro-Adjunto do Primeiro Ministro, Rui Gomes da Silva e o director de campanha, Pedro Pinto. Também não faltaram à festa social-democrata alguns autarcas do distrito: Costa Reis, Fernando Andrade ou Sotero Ribeiro, e até os contestatários de Ana Manso, como Álvaro Amaro e Júlio Sarmento.

Depois do apressado e apertado almoço, onde se comeu a tradicional lagarada, regada com o azeite da terra, o candidato do PSD subiu ao palco improvisado no exterior, um velho carro de bois. Não foram muitos os “laranjas” que ocorreram ao encontro com o chefe. Havia mesmo quem dissesse que eram mais os jornalistas que os apoiantes – uns trezentos, talvez um pouco mais. Mas isso não fez esmorecer António Caetano, edil de Celorico da Beira, que tomou a palavra para dar as boas vindas a tão ilustre figura, numa aldeia que «nunca antes recebera um Primeiro-ministro». Como pano de fundo um vale profundo e o verde da Serra da Estrela. O frio aconselhava a poucas palavras, mas Ana Manso, entusiasmada com a presença do presidente do partido, sacou um rol de intenções, apresentou as suas bandeiras e atacou os socialistas. Levava a lição estudada e quis impressionar o chefe informando-o de que «temos a melhor água, os melhores ventos e o melhor ar». Foi um Santana Lopes encolhido pela baixa temperatura quem a seguir declarou aberta a campanha. Elogiou a líder distrital pela «escolha do magnífico local», porque esta campanha é «menos convencional» e é assim que ele gosta.

No seu primeiro discurso oficial de campanha, o candidato laranja lançou os primeiros ataques ao partido socialista. «No dia 16 de Dezembro de 2001, eles disseram a Portugal “nós não somos capazes de continuar a governar”», afirmou Santana Lopes. E agora, «quando já arrumámos a casa, aí vêm eles bater à porta, não é vento, não é chuva, são eles a dizer que querem voltar ao poder», exclama o candidato, empolgando a pequena multidão que grita «isso não», enquanto agitam as bandeiras laranjas. Dá como exemplo as SCUT`s, que significaram «contratos com a banca a taxas de juro bem rentáveis» para a banca, diz o presidente do PSD. Depois de ter dito que não estava ali para grandes discursos, talvez por culpa do frio, começou a entusiasmar-se e garantiu que não iria aumentar os impostos, nem o desemprego do país. «Eu já conheço os dossiês e os números», assevera o candidato do PSD à chefia do Governo. Inspirado num popular slogan publicitário, Pedro Santana Lopes, disse ainda: «há os que falam, falam, e não dizem nada. E há os que falam, falam, e fazem», lançando a gargalhada entre os apoiantes. Atacou então Sócrates por necessitar constantemente de “bengalas” e que era «falso, falso!» que Guterres não tenha pedido maioria absoluta. Recordou então que, quando se candidatou à Câmara de Lisboa, as sondagens, «dez dias antes das eleições» lhe davam «menos dez pontos» que ao seu adversário, «depois foi o que se viu». Confiante assegurou: «vamos ganhar». E prometeu «voltar com mais tempo», depois do dia 20, para celebrar a vitória com as «gentes da Rapa».

Ao cair do pano subiu ao palco improvisado Júlio Ambrósio, pastor, produtor de queijo e presidente da Junta dos Prados, outra aldeia serrana, também no concelho de Celorico da Beira, que ofereceu a Santana Lopes uma manta de lã, «para se aquecer na noite de vitória», e um cajado, para «não deixar desviar os votos», mas também, se for preciso, «dar com ele na moleirinha ao engenheiro Sócrates». O líder do PSD apressou-se a colocar no ombro a manta «que é quentinha, é!», gracejou Santana Lopes, com o cajado na mão, enquanto agradecia.

Patrícia Correia

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