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Salazarismo no BE e no PCP

Cavaco Silva falou em “dia da raça”, e estalou o escândalo entre os polícias do vocabulário. BE e PCP dizem que o Presidente recuperou o vocabulário nacionalista e racista do Estado Novo. Eis um notável exercício de demagogia política que, com certeza, provocou lágrimas comovidas nas carcaças de Lenine e Trotsky.

BE e PCP têm sempre Salazar na boca. Aqueles que não concordam com bloquistas e comunistas continuam a ser apelidados salazaristas. Parece que o velho ditador está sempre ao virar da esquina. E, atenção, esta obsessão não aparece por acaso. Convém recordar que o BE e o PCP possuem uma cultura política muito semelhante ao salazarismo. Repito: Louçã e Jerónimo são iguais a Salazar em muitos aspectos. Tal como Salazar, Louçã e Jerónimo são anticosmopolitas, isto é, querem um Portugal fechado em relação ao exterior. Bloquistas e comunistas partilham com os salazaristas o sentimento anti-EUA e anti-UE. À imagem de Salazar, Louçã e Jerónimo querem exilar Portugal; o país não deve ter contacto político, económico e cultural com a globalização. Salazar escondeu-nos do mundo através de uma política proteccionista e paternalista que colocava a sociedade na dependência do Estado. BE e PCP têm a mesma visão. O Estado socialista, dizem, deve proteger os portugueses do vírus liberal oriundo de Bruxelas e Washington. O isolacionismo provinciano e nacionalista de Salazar está vivinho da silva no BE e no PCP.

Salazar, Jerónimo e Louçã poderiam sentar-se, tomar um chá e conversar durante horas sobre aquilo que os une: o ódio visceral que sentem contra a sociedade liberal composta por indivíduos cosmopolitas e não por grupos nacionalistas. O léxico corporativista de Salazar será muito diferente do vocabulário sindical de BE e PCP? Meus amigos, votar no BE e no PCP significa legitimar uma mensagem reaccionária e nacionalista. Votar no BE e no PCP é regressar a Salazar. Não, obrigado.

Alcateias

Portugal não é um país. É um amontoado disforme de corporações e sindicatos. Na semana passada, os pescadores bloquearam os portos. Em troca, receberam algumas regalias. Esta semana, os camionistas bloquearam as estradas (querem o gasóleo profissional que foi garantido a outras corporações). E o resto do país considera que estes bloqueios ilegais são legítimos. Isto porque o resto do país também é composto por corporações e sindicatos. Os agricultores e os taxistas, por exemplo, já devem estar a pensar num bloqueio com táxis e alfaias agrícolas. E não deve faltar muito para que o gasóleo profissional entre no rol de exigências dos funcionários públicos.

Portugal nunca discute o Estado de direito; o único tópico de discussão é o Estado social. O Estado de direito pressupõe a existência de indivíduos. Sucede que os portugueses nunca são indivíduos, e são sempre camaradas de uma corporação qualquer. O português (seja ele juiz ou camionista) só existe através do seu grupo. O resultado desta cultura tribal está à vista de toda a gente: Portugal é dominado por uma confederação de alcateias que vive do saque ao Estado social e do desprezo que garante ao Estado de direito.

Por: Henrique Raposo

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