Quarenta e nove anos depois de Salazar ter caído da cadeira no forte de Santo António no Estoril, há quem tenha posições saudosistas sobre o antigo império, admitindo que o velho fascista é ainda hoje “uma referência em tudo” e merece “estima pessoal, política e intelectual”.
É assim que o proponente da chamada “Nova Portugalidade” e ex-militante da juventude do CDS/PP se apresenta tentando levar as suas pérfidas ideias, convidando para tanto Jaime Nogueira Pinto a conferenciar acerca dos temas “Populismo ou democracia? O Brexit, Trump e Le Pen” na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O que aconteceu já todos sabemos, chegando o assunto na passada semana ao Parlamento onde se discutiu o fascismo, a democracia e se hasteou a bandeira da Liberdade.
Liberdade, pequenina palavra com apenas nove letras, que nos motiva e nos obriga novamente a refletir, continuando a perguntar: O que é a Liberdade? As instituições defendem a Liberdade? Ser livre é apenas ter opinião? O que ser livre nesta sociedade globalizada?
Trump foi eleito, Hitler também o foi e Le Pen é a ameaça que se segue. Em vários países europeus os movimentos nacionalistas são uma realidade. Felizmente em Portugal a chamada extrema-direita resume-se a fenómenos como este e a mais meia dúzia que se reúnem num partido que a democracia consente, o PNR, percebendo que a Constituição da República, no seu artº 46º, refere textualmente «não são consentidas associações que perfilhem a ideologia fascista».
Isto para se entender que o nacionalismo, tal qual é defendido por cá, não passa de uma parvoíce e uma verdadeira cretinice, obrigando-nos, mesmo assim, a estar atentos, despertos e motivados para estas manifestações que, de tempos a tempos, emergem, fazendo jus a um populismo exacerbado tão bem descrito no recente livro do jornalista norte-americano John B. Judis “A explosão do populismo”.
Se o Parlamento foi tão lesto ao aprovar votos de condenação pela suspensão da dita conferência, já a posição da Associação 25 de Abril disponibilizando as suas instalações para a realização da mesma, obriga-me a ficar perplexo e boquiaberto, pois só por atitude do chamado politicamente correto se poderá eventualmente compreender, percebendo que para a semana a meia dúzia de nacionalistas do tal PNR, aproveitando o ensejo e a boleia irão manifestar-se com o vil prepósito de, mais uma vez, intimidar e ameaçar a democracia e a Liberdade. Com esta gente é preciso estar sempre atento, assumindo o providencial ensinamento popular “Com um olho no burro outro na couve”, pois, pelo sim pelo não, “não vá o diabo tecê-las”.
Neste lamentável processo onde todos os votos, ditames, decretos e leis não conseguem demover velhos e teimosos comportamentos, o melhor é ter em conta o conselho de Jorge de Sena: «Tem cuidado contigo. Quem te respeita é um amigo. Quem não te respeita não é. Liberdade, Liberdade, tem cuidado que te matam».
Por: Albino Bárbara