Os americanos apanharam o Saddam Hussein. Nada mais justo, depois do Saddam ter apanhado dos americanos. Numa pequena cova escondida de uma casa em Tiktrit, os soldados da coligação encontraram aquela figura barbuda, que julgaram poder ser Karl Marx, o próprio Saddam ou o ministro Morais Sarmento. As dúvidas dissiparam-se quando o militar que o encontrou perguntou “Quem está aí?” e o homem enfiado naquele buraco respondeu “Estou disposto a negociar”, coisa que Marx e o ministro da Presidência nunca diriam.
Vários estadistas das nações mais importantes se congratularam com o acontecimento, bem como M. Chirac e Herr Schroeder. Também muitos dirigentes da esquerda europeia ficaram contentes com a captura do ex-ditador do Iraque, apesar de terem sido contra a intervenção e alguns estão ainda contra a ocupação. Se os americanos não tivessem entrado no Iraque ou se tivessem vindo embora, com toda a certeza que Saddam se entregaria voluntariamente ao tribunal de Haia. E com muito melhor aspecto. O aspecto andrajoso com que foi encontrado agora deve ser também culpa dos EUA. Como toda a gente sabe, na América só os muito ricos – os donos das petrolíferas e das fábricas de armas – é que não são sem-abrigo a dormir em vãos de escadas e caves esconsas. As tropas aliadas foram apenas redundantes em relação aos planos do ex-Presidente do Iraque: acabar som o regime ditatorial e prender o ditador. Saddam tinha tudo planeado e os americanos, como sempre, estragaram as hipóteses de democratizar o Iraque e, a longo prazo, toda a região.
Depois de capturado, correram mundo as imagens de Hussein a ser examinado por um médico. Aquele exame que parecia ser à cavidade bucal foi na realidade uma forma humanitária de procurar os seus dois neurónios. A lobotomia, que em tempos deu um Prémio Nobel a Portugal (e mais tarde daria outro), é hoje considerada um tratamento inadequado para seres humanos e ditadores sanguinários.
Agora, com Saddam Hussein preso, é preciso que lhe façam um julgamento justo. A esquerda pensa que isso pode ser mais bem conseguido num tribunal iraquiano. Sem dúvida. Num tribunal iraquiano o homem será inapelavelmente condenado à morte, se lá chegar com vida. Já se o levarem para um tribunal internacional há a séria hipótese de manter o homem preso o resto da vida, o que parece indigno para um estadista que tinha sempre a mesa posta em todos os palácios onde nunca punha os pés.
O mundo mudou, a hora também mas a McDonald’s continua a vender hambúrgueres. A malta do Fórum Social é que tem razão.
Por: Nuno Amaral Jerónimo