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S. João

Editorial

1. Muitas têm sido as vezes que aqui comentei a falta de iniciativas e de atividades no centro da cidade da Guarda. Muitas foram as vezes que aqui lamentei que cada vez menos pessoas percorram as ruas e ruelas do centro. Quando uma cidade não “consegue” que os cidadãos deambulem e desfrutem do espaço, das ruas, dos largos e jardins, que comprem nas lojas, que participem da vida da urbe… é uma cidade que está a morrer. E é assim que nos últimos tempos sinto a Guarda: uma cidade de que os cidadãos fogem – fogem à procura de trabalho, partem por necessidade, por opção, ou, simplesmente, fogem do centro cívico onde nada acontece, da pasmaceira em que se foi tornando, do cerco de marasmo que a aprisiona. A Guarda é o arquétipo da localidade que sobrevive graças aos serviços, mas onde a economia está agonizante – acontece por todo o interior, e não é fácil inverter esta tendência deprimente. A responsabilidade de mudar, ou tentar mudar, cabe a todos, em especial aos dirigentes políticos, às instituições, à autarquia e ao governo.

E perante este cenário desolador… aconteceu: a cidade encheu-se de gente, de pessoas… o fim-de-semana de S. João foi um momento de antinomia, de dinamismo e energia impressionante. Há momentos assim. Momentos que contrariam todos os diagnósticos e olhares. Momentos paradoxais, que devemos saborear. Que são cada vez mais raros entre nós. Que desejamos que perdurem.

Várias iniciativas agitaram a cidade e as pessoas acorreram. O calor ajudou. A feira no largo de S. João capitalizou as diferentes dinâmicas e afirmou-se-definitivamente, mas por toda a cidade houve festa e pessoas na rua. A cidade fria, cinzenta e sorumbática deu lugar à urbe alegre e animada, de que só alguns, nostalgicamente, se recordavam. E não foi só no centro da cidade, a animação contagiou-se aos bairros periféricos, às Lameirinhas, à Estação, ao Pinheiro… a Guarda teve festa, mesmo continuando a ser uma cidade sem Festas. Foi um fim-de-semana surpreendente, em que estão de parabéns os que promoveram e trabalharam para que o S. João da Guarda ressurgisse, mas também as pessoas, que encheram as ruas numa extraordinária manifestação de alegria.

2. Entretanto, o ministro das Finanças dá-nos contas das quebras de receita fiscal que poderão implicar mais austeridade. Ou seja, o governo, e em especial Vítor Gaspar, um tecnocrata formatado em Bruxelas, pensava que era possível cortar investimento, baixar despesa, sem dinamizar a economia, e com o desemprego historicamente nos 15%, sem descer consideravelmente a receita do estado. Estava obviamente errado. O governo continua a prometer o maior esforço para pôr a economia a mexer, mas, todavia, não apontou um rumo de sucesso. Se aos nossos problemas juntarmos a agonia em que entrou Espanha, o nosso parceiro comercial por excelência, e em especial das pequenas e médias empresas, facilmente se percebe que a retoma ainda vem muito longe, tão longe que os especialistas e comentadores preferem divagar sobre os instrumentos europeus de controlo da dívida pública dos Estados membros do que discutir os problemas do país.

Luis Baptista-Martins

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