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Rotas de Colisão

Estamos em 2007, ano que promete acontecimentos e circunstâncias para os quais não estamos preparados. Um breve repositório:

1. Aquecimento global. É essencial diminuir imediatamente as emissões de dióxido de carbono. Se o conseguíssemos fazer, talvez, com sorte, a temperatura média à superfície do planeta, hoje de cerca de 14 graus centígrados, subisse apenas um grau e picos, três graus se a coisa correr mal. Isto se houvesse um acordo global para o controlo das emissões de gases com efeito de estufa. O problema é que a China não pretende baixar o ritmo do seu crescimento económico, altamente poluente, e Bush não vai ratificar o protocolo de Quioto sob o pretexto de que esse gesto iria causar a perda de milhões de postos de trabalho nos EUA. A não acontecer um milagre de bom-senso nesses países, podemos esperar pelo colapso da corrente do golfo ou outro desastre climático. A curto prazo.

2. O Irão e a energia atómica. O Irão, que tem problemas reais de abastecimento energético, apesar de ter das maiores reservas mundiais de petróleo, decidiu embarcar num programa nuclear ambíguo. Ambíguo porque não demonstrando claramente a sua necessidade, deixa em aberto a possibilidade da sua utilização para fins militares. Enquanto os protestos internacionais se multiplicam, o Irão continua o programa. A ONU ameaçou com sanções, rapidamente ridicularizadas pelos dirigentes iranianos. O presidente, Ahmadinejad, não se contenta com isso e aproveita para dizer em público que Israel deveria ser varrido do mapa. Promove ainda por cima uma conferência em Teerão com o objectivo confesso de demonstrar que o holocausto nunca existiu. Que acham que faz Israel entretanto? Segundo o Spectator, prepara um ataque nuclear ao Irão destinado a acabar de vez com a ameaça. Porquê um ataque nuclear? Porque é a única forma, dada a distância entre os dois países, que inviabiliza um ataque convencional, de garantir de uma vez e por todas o fim dos ameaçadores planos iranianos.

3. A gripe das aves. Temos tido mais com que nos preocupar. Por enquanto, as mortes verificam-se no terceiro mundo. Há notícias recentes de uma mutação no vírus, mas a imprensa largou o caso. O problema, penso, é que a comunicação social tem uma forma própria de compreender o mundo. Uma forma que o mundo não reconhece. Para os jornais e as televisões, as coisas têm um tempo para acontecerem, um tempo passado o qual, se nada acontecer, deixa de haver notícia. O tempo das notícias sobre a gripe das aves passou. A ameaça não.

4. A economia global. A China está a tornar-se numa ameaça para o planeta e para as nossas economias. Está a exportar tudo e mais alguma coisa, incluindo desemprego. É verdade que o valor social de empregos a quatrocentos euros por mês é pouco (descontam um mínimo para a segurança social e nada para o IRS); empregos desses são condenações à pobreza mas uma esperança para países mais pobres. Tudo estaria bem nessas deslocalizações (que põem mais exigências de qualidade e capacidade de inovação em cima de nós), se não fosse o caso de haver necessidade de começar a produzir menos, de consumir menos, de regressar, pouco a pouco, à alvorada da revolução industrial – quando as emissões de dióxido de carbono não colocavam ainda em risco a sobrevivência do planeta.

Sugestões:

Um objecto de desejo politicamente incorrecto e vergonhosamente consumista: o iPhone, o telemóvel hoje mesmo reinventado pela Apple. A mão e os seus gestos naturais como verdadeiro interface do utilizador. (http://www.apple.com/iphone/)

Uma redescoberta: Pet Sounds, dos Beach Boys (edição do 40º aniversário). A praia ainda com uma camada protectora de ozono, o verão eterno, um som que ainda hoje mantém todo o seu poder. “God Only Knows”.

Por: António Ferreira

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