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Ronaldices

Vou fazer uma exceção e falar de…futebol, ou melhor, falar dos principais agentes desse desporto de massas. E é aqui que reside o problema, quando o excesso de “massa” leva a que alguns agentes, deste desporto de massas, se esqueçam que são as massas que lhes dão a “massa” no fim do mês e que, como tal, nunca deveriam revelar ingratidão perante os seus apoiantes incondicionais. Declaro, desde já, que não me incluo nesse conjunto de adeptos, nem nunca perdi uma noite de sono ou entrei em discussões por causa do futebol pois, mais estéril do que essas, só mesmo as tretas da Maia no programa da manhã da esganiçada Júlia (enquanto escrevo estas linhas, no ruído de fundo da TV, Maia acabou de informar uma pobre desgraçada, após deitar as cartas, que não será operada uma mas muitas mais vezes… a leveza com que a tipa debita estupidez!) mas adiante…

Confesso que nunca apreciei muito o “Crishtiano Rónaldo” por várias razões. Alguém que compra um filho como quem compra um Lamborghini e o impede de ter uma mãe apenas por capricho, que vive para a imagem, que só parece jogar a sério quando lhe cheira a dinheiro a sério, que se esquece que é graças a uma legião de mal-amados fãs que a sua imagem vale, também, o que vale, que se deixou inebriar pela fama ao ponto de, aparentemente, esquecer as origens, poderá, eventualmente, ser o melhor jogador do mundo, mas não me parece ser o melhor como pessoa. Ser o capitão da seleção implica dar o exemplo e deveria ser o primeiro a deslocar-se junto dos fãs e, eventualmente, quebrar o “protocolo”. Confesso que alinhei também na crítica à sua performance neste europeu. Felizmente contra a Holanda fez um excelente jogo. Esperamos que assim continue. O que parece que continua a fazer é a mudar de penteado entre as duas partes. Já estou a imaginar o Paulo Bento a patinar enquanto tenta explicar a tática e o menino em frente ao espelho a dar um jeito ao cabelo e a pensar que lá fora vão estar as câmaras a capturar o momento em que, inédito, um jogador mudou de penteado. O problema é que ele sabia que iam reparar nisso. Sabia que as revistas-lixo, ditas, do coração, iriam comentar.

O que é de lamentar é que num país que se encontra em profunda crise, com uma crescente legião de desempregados, se ande a mimar alguns tipos que são incapazes de um gesto de simpatia, um aceno, o facultar um autógrafo ou uma deslocação junto dos fãs, principalmente quando estes esperaram horas a fio, num país estrangeiro, só para poderem dar-lhes apoio. Esperamos todos que esta atitude seja em nome da suprema concentração e que nos compensem com bons resultados para que um país que anda divorciado da sua seleção se reconcilie porque, até há pouco, isso não estava a acontecer. A maravilha do futebol é que tudo se esquece quando as coisas correm bem e os golos aparecem. A nossa seleção tem vindo a crescer e a jogar cada vez melhor, ainda bem.

Não vemos, ainda, bandeiras desfraldadas nas janelas e varandas e muito menos nos carros nem uma mobilização para os jogos como de antanho e isso não se pode atribuir apenas à crise que atravessamos. Pode ser que com o apuramento para os quartos de final a maré comece a mudar e nos possamos reunir numa grande festa pois este país está a precisar de uma injeção de confiança e boas vibrações. E tu Cristiano, cresce um bocadinho como pessoa, que como jogador já demonstraste ser dos melhores, falta-te apenas aquilo que só os grandes jogadores conseguem: ser humilde mesmo sendo fantástico.

Por: José Carlos Lopes

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