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Rita! E Hollywood… criou a ruiva

Opinião – Ovo de Colombo

Foi há 29 anos que, no dia 14 de maio, Margarita Carmen Cansino, essa flor mundialmente conhecida como Rita Hayworth, passou a pertencer oficialmente ao reino dos deuses. Afinal, a própria, no auge da sua fama, chegou a ser apelidada de “Love Goddess”, qual Afrodite emergida das águas da Columbia Pictures.

A jovem, no início da sua carreira, foi a segunda “pin-up” mais importante da IIª Guerra Mundial. Mas era inevitável que viesse a tornar-se mais que uma “cheesecake”, sendo encarada como a deusa do amor, nome que Rita considerava irónico dada a sua vida amorosa atribulada. Nesse sentido, disse certa vez, em tom amargo, «Os homens deitam-se com Gilda e levantam-se comigo». De facto, a deusa do amor, qual fonte de desejo e inspiração, não foi tanto Rita, mas Gilda, o papel de “femme fatale” que a catapultou para estrela de maior magnitude, mas também que a assombrou para o resto dos seus dias.

Rita é bonita, deusa, mas é também o mais anedótico produto “made in USA”. De beleza “demasiado” latina para Hollywood, a beldade apenas conseguia fazer pequenos papéis de dançarina mexicana ou hispânica. Foi preciso tingir-lhe a ondulante cabeleira de ruivo para americanizar a atriz. A partir do momento em que a latina exótica virou uma “strawberry blonde”, as oportunidades para desempenhar outro tipo de papéis cresceram. A partir daí, Rita encarnou uma hibridez étnica que só lhe conferia encanto. Fez de “girl next door” americana e também, claro, de “femme fatale”. No entanto, fosse qual fosse o papel, a vertente hispânica nunca a abandonou: de filme para filme, dançava ritmos latinos eletrizantes. Vejamos “Blood and Sand” (1941). Acabada de se americanizar, Rita foi a escolhida para dar vida à venenosa Doña Sol, visto o seu cabelo lascivo vermelho ir ao encontro da perversidade erótica da personagem. Rita deu vida a uma espanhola que tinha de ter uma aparência capilar que não fosse latina (uma hibridez total, portanto).

Uma vida abusiva, com álcool à mistura, levou-a a um envelhecimento físico e mental mais acelerado que o normal. Porém, um mal maior estava por trás disto tudo: a doença de Alzheimer. Rita começou a sofrer a doença em meados dos anos 50 mas o mal só veio a ser diagnosticado muito depois.

Seja como for, esta deusa transmitiu, desde sempre, uma aura de beleza arrebatadora aos seus admiradores. Assim sendo, recordemo-la para sempre com alegria.

Miguel Moreira

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