Os soldados do Regimento de Infantaria (RI) nº 12 trocaram as voltas ao regime nesse dia de abril de 1974. Fazendo jus ao lema da guarnição da Guarda, eles foram «firmes como rochas» mas a favor da Revolução.
Composto por três companhias, o RI 12 veio para a Guarda em 1966, assumindo claramente uma função estratégica junto da fronteira com Espanha. É nesse contexto que o MFA pede a deslocação de uma força significativa para Vilar Formoso no dia da revolução. Aí, cerca de 100 homens cuidam da rendição dos elementos da PIDE, da sujeição dos elementos da Guarda Fiscal e da GNR e vigiam as movimentações do lado espanhol, ainda sob o jugo franquista. «Houve razoável bom senso e sangue frio da parte das pessoas do lado de lá da fronteira», lembrou, em 2000, Pires Veiga a O INTERIOR. Na Guarda, o trabalho dos soldados do 12 também consistiu em desmantelar todos os meios de comunicação da Mocidade Portuguesa e da PIDE e confiscar as armas daquelas duas corporações, bem como os arquivos. A esse propósito, Pires Veiga recordou que o regimento teve na sua posse cerca de dez mil processos relativos a pessoas da Guarda, «quando na altura, a população do concelho estava longe de atingir esse número». De qualquer modo, os ecos da revolução não causaram grandes dores de cabeça aos soldados, que contaram com a ajuda dos guardenses para manter a ordem pública.
Mais problemática parece ter sido a situação no quartel. Vindo de Lamego a seguir ao 16 de março e ao fracasso do levantamento das Caldas, o capitão Augusto Valente chegou à Guarda na condição de deportado por ter sido na região uma peça de ligação ao movimento dos capitães. «No primeiro contacto que teve com os onze aspirantes do quartel, falou, de uma forma muito ténue, na eventualidade de poder vir a acontecer uma coisa idêntica à das Caldas da Rainha», recordou Pires Veiga. Foi o suficiente para conseguir o apoio de quase todos os oficiais e soldados do regimento. Na tarde do 25 de Abril, «depois do almoço», a tropa detinha o comandante e o segundo comandante «porque se mantinham leais ao regime deposto». Cá fora, os guardenses “cercavam” o quartel, expectantes da reação do regimento, conforme mostrava o “Jornal do Fundão” poucos dias depois da revolução.
Uma parte importante do espólio documental do antigo RI Nº 12 relativo aos primeiros dias da Revolução foi entregue à cidade em abril de 2000. Trata-se do relatório das operações que foram destinadas àquela unidade pelo Movimento das Forças Armadas na manhã do dia 25 de Abril – que O INTERIOR republica nesta edição –, bem como vários fac-simile de mais alguns documentos pessoais da época, naquele que foi o grande contributo para a compreensão do papel do Regimento nos dias conturbados da Revolução dos Cravos.