Os consecutivos encerramentos das empresas têxteis da região e o alarmante número de desempregados registados durante o ano de 2003 têm servido de mote aos inúmeros balanços e discursos da actualidade política regional e nacional. Uma economia fragilizada que tem evoluído para uma sociedade desconfiada e incapaz de reagir perante as adversidades. O “Interior” quis saber que alternativas ainda podem ser exploradas na região, no sentido de definir um rumo coerente e revitalizador da economia que possibilite, ao mesmo tempo, criar mais emprego. Para os especialistas na área de Economia contactados, a recuperação dos têxteis ainda é possível, desde que exista vontade política e se aposte na criação de uma marca identificadora da região, mas é o sector turístico que surge como a área mais promissora no ranking das alternativas ao desenvolvimento.
Pedro Guedes de Carvalho, professor de Economia na Universidade da Beira Interior, tem a certeza de que não vai ser no sector têxtil que a região vai criar um rumo positivo, pelo menos enquanto «os têxteis não se ligarem a uma marca com prestígio internacional», garante. Uma ligação que deverá, no entanto, salvaguardar, a autonomia empresarial da região através da criação de um «marketing próprio, de uma identidade característica da mesma». Como alternativa viável, o turismo é um sector considerado importante pelo economista, que acredita «ser a área com mais futuro na região». Através do auto-emprego, mais concretamente pela criação de pequenas e médias empresas especializadas em sectores menos explorados, como o turismo ambiental, as visitas guiadas, os percursos pedestres e mesmo percursos ligados à história, é possível, segundo Pedro Guedes de Carvalho, «criar postos de trabalho, investindo em recursos humanos altamente qualificados, os alunos da Universidade da Beira Interior». Uma alternativa que permite aos alunos criar e gerir o seu próprio emprego e desenvolver as potencialidades da região. A necessidade de criar quadros qualificados para desenvolver este tipo de negócio, passa também pela obrigatória elaboração de estudos de mercado no sentido de detectar «quais as áreas que merecem um investimento mais significativo».
Da hortofloricultura à PLIE
Outra oportunidade de desenvolvimento referida pelo economista reside no «bom e eficaz» aproveitamento de características climatéricas e de solo, únicas na região possibilitando, a criação de um verdadeiro mercado de horticultura e hortofloricultura. Apesar da crise do sector têxtil, ainda é possível procurar a sua revitalização e desenvolvimento, pelo menos na opinião do deputado socialista Pina Moura. O parlamentar eleito pelo distrito da Guarda considera que a actual crise da indústria têxtil resultou de «uma reacção tardia» do sector e do Estado, considerando que o Governo reagiu tarde, mas que «ainda não está tudo terminado». Logo, o Governo e as empresas «devem fazer tudo para que as fábricas não fechem», espera. Nesse sentido, a existência de capital de risco para as empresas em dificuldades, bem como as acções de formação para trabalhadores desempregados, pode, segundo Pina Moura, ser essencial para gerir a crise «ainda que temporariamente». José Carlos Alexandre, professor de Economia no Instituto Politécnico da Guarda, também não põe de parte o sector têxtil como potencial sector de desenvolvimento para a região, «nomeadamente o sector das confecções», embora consciente de que os têxteis da região são afectados por um problema que afecta os têxteis do país, «não possuem uma marca de qualidade que os distinga dos demais e por uma forte concorrência de mercados com produtos semelhantes e muito mais baratos».
O turismo, ou o «subaproveitamento turístico» da Serra da Estrela e da própria região, também é visto por Pina Moura como um potencial sector de investimento. «Caso seja pensado em conjunto com a ampliação da capacidade de oferta do sector na região e com o melhoramento das vias de acesso», adianta. A área da prestação de serviços, nomeadamente a prestação de cuidados de saúde é também um factor «essencial do desenvolvimento da região», acrescenta. Já o turismo rural, ou o chamado turismo de recursos naturais, é, segundo José Carlos Alexandre, uma solução que poderá ajudar a região, mas que não «virá criar grandes oportunidades de emprego». Uma aposta que considera segura para a Guarda reside na Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) e «em todo o investimento empresarial dela decorrente». Investir na cidade e na região, criando sectores de actividade com potencial, pode tornar-se o melhor argumento para garantir o tão aguardado desenvolvimento. «É que mais importante do que formar quadros qualificados, é criar condições que garantam a fixação dos mesmos na região», refere.
Marisa Morais