A Guarda parece estar a ganhar uma certa ambição. Até pode ser apenas, e para já, o aparecimento frequente do novo presidente da Câmara nos órgãos de comunicação social de maior audiência nacional, até pode ser só a expressão de uma certa vontade de mexer no que esteve tanto tempo parado, mas nota-se uma certa vibração positiva. É certo que fazer notar algo de novo é tarefa fácil. A inércia que se viveu durante anos, e em especial nestes últimos, é de fácil ultrapassagem. Quando a tabela de qualificação está a zero e os jogadores há muito parados, qualquer movimento pode marcar pontos, sobretudo quando entra um jogador fresco que, ainda que não conhecendo o recinto de jogo, começa a chutar em várias direções… algum remate acertará na baliza.
Este jornal, e os demais órgãos de comunicação social locais/regionais, têm a obrigação de pressionar à clarificação da estratégia de jogo. Este período de mudança deve ser encarado como uma oportunidade para os órgãos de comunicação social locais se renovarem. A estagnação do passado também os fez entrar num certo marasmo, onde o péssimo passou rapidamente a ser apenas mau, o mau a ser sofrível e o sofrível a ganhar aceitação. Por outro lado, têm, nesta nova Câmara da Guarda, um interventor mais complexo, com maior domínio na exposição pública e na comunicação… É por isso, também, um maior desafio para os media locais.
Também nós, cidadãos que igualmente perderam a ambição nestes últimos anos, onde frequentemente se ouvia dizer de forma resignada, que “a Guarda perdeu o comboio e que já não passa outro…” devemos ambicionar e exigir “saber porque e para onde vamos”. Mas tomar decisões é difícil e carece de grande assertividade. Uma liderança forte, de preferência inteligente e capaz, faz toda a diferença, sobretudo no que respeita à motivação para a ação de cada um e, ainda que possa ser contraditório, também para a reivindicação individual e coletiva perante essa mesma liderança.
Num ano em que se iniciará (esperemos) a execução de um novo período de apoio financeiro externo, onde inteligência, sustentabilidade e inclusão são palavras de ordem, o conceito de resiliência aparece, agora, nos documentos estratégicos. Ainda que tarde, pois trata-se de um conceito que carece de “cultivo”, compreende-se que apareça neste contexto de uma Europa em Crise, em que cada país terá que ser capaz de se auto recuperar das inesperadas adversidades, assumido que está que, no plano económico e social da Europa, o conceito de “ajuda” está em vias de extinção. É por isso fundamental pensar no que se pode e deve fazer para consolidar a capacidade de produzirmos bens, saber, cultura, autonomia e solidariedade e, sobretudo, pessoas capazes de o fazerem pelo presente e futuro da comunidade em que se incluem.
Resiliência é também o conceito que terá que continuar a nortear este jornal que, nascido num contexto de competição, soube crescer, criar algum músculo e reinventar-se em novas formas de levar a informação e a opinião ao público. Lanço-lhe, aqui, o desafio de introduzir novas formas de comunicação, não no que respeita aos meios mas sim aos conteúdos. Acredito que será capaz de continuar a ajudar a construir a democracia.
Por: Cláudia Quelhas