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Editorial

1. O distrito da Guarda perdeu 13 mil eleitores desde 2008. Só o concelho de Seia perdeu quase dois mil eleitores, enquanto o concelho do Sabugal tem agora menos 1900 eleitores e o da Guarda perdeu perto de 500. Mas se o distrito da Guarda perdeu em 4 anos mais de 13 mil residentes, na Cova da Beira a desertificação tem taxas similares, o concelho da Covilhã perdeu entre 2008 e 2012 dois mil eleitores e o do Fundão perdeu mais de 1.800.

Ou seja, muito para além da crise e do ambiente depressivo em que o país vive; muito para além da presença da “troika” e do buraco em que Portugal está metido, a Beira Interior sofre cada vez mais as contingências da interioridade. A região perdeu só nos últimos quatro anos perto de dez por cento da sua população. E a atualização dos cadernos eleitorais, que deverá ser realizada em junho, poderá apresentar uma realidade de fuga de população ainda mais traumática.

O êxodo rural e o abandono das aldeias já não é uma novidade. O que agora surpreende é que a desertificação vai crescendo inclusive nas vilas e cidades do interior, onde a falta de emprego e de expectativas coage à partida. Emigra-se, como sempre se emigrou por estas terras, mas agora já não chora quem parte, mas quem fica… porque os que partem levam consigo os sonhos que há muito morreram entre os que ficam; não partem de ânimo leve, partem por não encontrarem outra solução, por não verem outro caminho.

2. Partiu há muito da sua pequena aldeia de S. Pedro de Rio Seco à descoberta do mundo. Eduardo Lourenço regressa à Guarda por estes dias para partilhar connosco a dimensão universal do seu pensamento. Aproveitemos para lhe dar os Parabéns pelos seus 90 anos de vida.

Escritor e pensador global, Eduardo Lourenço vive intensamente a sua ligação à terra, à região, à Guarda «fria» e «ventosa» que marcou e a que volta sempre com afetividade. Patrono da ideia dos Estudos Ibéricos na cidade que lhe dedica também a Biblioteca, aos 90 anos o mais ilustre filho da região partilha connosco mais uma vez o seu património de afetos, a sua inesgotável criatividade, o seu pensamento, a sua incomensurável energia.

Eduardo Lourenço é o maior pensador português da atualidade e é a personalidade mais prestigiosa da Guarda, cidade onde a sua marca é indelével. Disfrutemos da sua presença, da sua companhia, da sua boa disposição e da sua luz. Obrigado professor.

Luis Baptista-Martins

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