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Rescaldo

Agora Digo Eu

Ninguém me leva a mal que inicie esta crónica recordando Monsieur De La Palisse. O Partido Socialista ganhou as autárquicas. A CDU teve o seu melhor resultado. O CDS também. O PSD levou a maior banhada de sempre. No final veio ao de cima a leitura feita por quem de direito, não percebendo Passos e Cª que o cartão vermelho serve para desandar diretamente para o balneário. A partir de domingo, o líder do PSD tem a cabeça a prémio e é perfeitamente entendível que o tal mandato com políticas nefastas e ordinárias, que pretende manter e continuar, podem muito bem custar-lhe o lugar de líder e não chegar a junho de 2015 como primeiro-ministro.

Se no país é assim, com exceção de três distritos onde o PSD ficou à frente, por uma unha negra, o cavaquistão desapareceu e o jardinismo acentuou o seu (quase) declínio, centremos a nossa atenção nas 14 autarquias do nosso distrito. Quando em janeiro deste ano resolvi dar uma volta por todos os concelhos, afirmei que tanto o PS como o PSD tinham mais que seguras as câmaras de Seia e Almeida, respetivamente, e as apostas rosáceas eram bem mais ambiciosas que as social-democratas, percebendo-se que Fornos de Algodres, Aguiar da Beira e Trancoso poderiam mudar de cor partidária, o que efetivamente aconteceu, tendo ficado ligeiramente surpreendido com as derrotas de António Edmundo em Figueira Castelo Rodrigo e de Esmeraldo Carvalhinho em Manteigas. E, se José Albano Marques e o seu PS cantam vitória, é bem notório o sorriso amarelo e o travo amargo da pesada derrota na capital de distrito onde a exceção completou a regra, não havendo regra sem exceção.

Álvaro Amaro tem uma vitória de se lhe tirar o chapéu, assentando-lhe que nem uma luva a célebre frase do general romano Júlio César “Veni, vidi, vici”, esperando que saiba carregar a enorme responsabilidade dos 5-2, que outros não foram capazes de assumir e respeitar e, se dos fracos não reza a História, curioso, ou talvez não, Amaro está sempre do lado certo da História. O PS/Guarda tem aquilo que merece e que nos últimos anos procurou. Não investiu, não soube governar, a Guarda ficou para trás e Joaquim Valente arrisca-se a passar para a História como o pior presidente de câmara de que há memória, sendo o resultado (quase) candidatável a património concelhio do ridículo e do esmagamento político. Para tanto contribuiu a escolha do candidato (Igreja, quis ser deputado, governador civil e presidente da distrital – nunca conseguiu), que fez uma campanha apagada, com inúmeras precipitações, algumas sem pés nem cabeça, adicionando, ainda, a impugnação de todas as listas do movimento “A Guarda Primeiro”, contribuindo para a vitória indiscutível de Álvaro Amaro.

Diz o povo que dos derrotados não reza a História, mas, em política e seguindo o ensinamento de Stefan Zweig, «não se pode perdoar aos culpados», o destaque vai pela negativa para o inábil presidente da distrital laranja, que, de aposta em aposta, perdeu em toda a linha, a começar, desde logo, pelo concelho onde durante décadas foi presidente de câmara. Sarmento, deve embrulhar-se nesta folha de jornal e deveria (era o mínimo) ter colocado, no passado domingo, o lugar à disposição.

Dando os parabéns aos vencedores, permitam-me que regresse à Guarda para afirmar que Álvaro Amaro terá de ser a cabeça, o motor e o timoneiro de um barco esquecido no cais, que, com mais 13, deverão devolver à Guarda o prestígio e a grandiosidade de outros tempos. Amaro, tal qual Jack Harper em “Esquecido”, tem de salvar a nave pois a sua chegada tem forçosamente de desencadear uma série de situações (todos sabemos quais) que o obrigarão a fazer tudo o que sabe, pois o destino desta terra está agora nas suas mãos. Se assim for, e esperemos que assim seja, “Bem vindo Mister Chance”.

Por: Albino Bárbara

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