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Rescaldo

Agora Digo Eu

O PS ganhou as eleições europeias com 31,5%. O PSD perdeu-as. O CDS também. E não fosse a coligação, o Partido de Coelho, sozinho, pouco ultrapassaria os 20%. O PS saltou a fasquia de um milhão de votos, pese embora se perceba que os 4,5% de diferença entre o PS e a coligação de direita poderá trazer a muito curto prazo uma crise no partido da rosa. E que o populismo de Marinho não dará em nada. Para alguns comentadores da nossa praça o caso da abstenção e da diferença entre os partidos do poder parece ser o maior dos casos. Mas não é. Mesmo em política aplica-se a máxima “por um se ganha, por um se perde”. Que o diga Esmeraldo Carvalhinho ou Cavaco Silva, eleito Presidente da República com um quinto dos votos dos portugueses.

Assim sendo, a direita teve nestas eleições o seu segundo desaire, enquanto toda a esquerda tem maioria absoluta. E se nas autárquicas do ano passado este desgoverno já deveria ter caído, é de toda a importância perceber o alcance da moção de censura do PC, pois esta direita, sem princípios e valores, continuará a por em prática uma política liberalóide que se resume única e exclusivamente à aplicação dos ditames trokianos do autêntico capitalismo selvagem, sendo tempo do atual habitante do palácio pink perceber, em definitivo, que estes chegaram ao fim, sugerindo-lhe que aproveite as comemorações do Dia de Portugal, na cidade mais alta, que nada lhe deve, antes pelo contrário (foi ele que iniciou o folhetim Hospital mandando Valério do Couto vender terrenos da cerca para financiar um acrescento no hospital), para propor a demissão de Passos e Cª. Por dever patriótico. Por Portugal e pelos Portugueses.

Mas se a leitura tem forçosamente de ser esta, também por cá, meio ano depois de se efetivar o poder autárquico, convém ver como andam as coisas. A política, as políticas, os políticos, os encontros e desencontros. E se na Mêda o PSD se encosta ao PS, na Guarda, com a (o)posição existente, o PSD parece ter ganho, para o seu lado, mais um vereador, passando dos iniciais 5 eleitos para 6, nesta terra de contrastes onde praticamente toda a gente se conhece e se cumprimenta, para se perceber, não politicamente (porque aí é perfeitamente entendível), como é que 99% da população não conhece pessoalmente o seu Presidente de Câmara e no revés da medalha o seu Presidente de Câmara não conhece pessoalmente 99% da população. Fenómenos que a sociologia um dia será capaz de explicar.

Ignacio Ramonet, in “Tirania da Comunicação”, transmite a ideia que é chegado o tempo de saber informar sobre a informação. Com ética, verticalidade, entrega, disponibilidade, denúncia, recurso decente a fontes e arquivos, excluindo a suspeição, a censura, as correias de transmissão, os truques, montagens sabendo distinguir a verdade mediática do timing mediático, assim como do tempo político. É que em tempos de crise estão a vir ao de cima processos esquisitos e quem tem a nobre missão de informar tem obrigatoriamente de perceber que de tanto observar também se está a ser observado e… com isto termino socorrendo-me do pensamento do sociólogo francês Pierre Bordieu: «O que existe de mais terrível na comunicação é o inconsciente da comunicação».

Por: Albino Bárbara

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