Arquivo

Rendo-me ao PC

Saliências

Durante anos evitei o telemóvel e cheguei a ter um que só recebia e chamava para seis números. Era para crianças. O Chico Neves ria-se tanto da baliza que eu criava. Ele já gostava de jazz então. Como estava longe da família usava aquilo que tanta urticária me causava. Hoje tenho dois. Rendido à urbanidade, mas coerente com a origem, nem sempre os atendo. Mas já tenho mãos livres e falo em andamento com frequência. Depois foi o PC, não o partido, mas os bites e os vírus. Detestei começar a navegar e a falar com pessoas sem suporte em papel. Mas a boa verdade é que se tornou imprescindível visitar o e-mail e estudar nos sites do conhecimento moderno. Os filhos crescendo foram sendo mais exigentes com as máquinas e fomos aprimorando os conteúdos das máquinas. Agora tenho uma rede de computadores em casa onde o Miguel se dilui e o Tiago se esquece de nós. Também o Vasco, o terceiro, o que nos punha a cabeça em água, parece talhado para o teclado. Com os seus pequenos dedos bate as teclas e durante esse tempo não grita, não estrebucha e não aborrece. O pior é retirar os dedinhos das teclas e trazer o bicho para a mesa. Lá voltam os gritos, alguns pontapés e o açoite que alguns criticam tanto, e acabam por dar. Felizmente o Ricardo leva-me a jogar futebol e eu ainda adoro isso. Os outros chutam com a tecla d e fintam com a tecla g.

Mas ontem, eu encomendei um portátil. A rendição do animal ao novo mundo ficou completa. Vou passar a facturar em informática, a escrever relatos sempre à máquina, a vigiar acompanhado da xica (que já lhe dei nome) e se calhar a dormir com ela algumas vezes. Rendi-me à máquina. Tudo à minha volta consome luz, injecta-se de energia em tomadas, e os cabos envolvem-me as pernas. Alguém tem de encontrar uma solução para aqueles fios todos. Ando a desafiar o Filipe Barreiros.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply