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Relvados

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Em verões já acontecidos era vulgar estarmos a falar de um país pintado a cinza pela praga dos incêndios que, de forma sistemática, percorriam os quatro cantos do retângulo lusitano.

Neste ano, vá lá saber-se por que raio de conjuntura astral, somos levados a falar, a ouvir, a ver, relva por todo o lado. Escrevem os jornais, falam as rádios, mostram as televisões.

Primeiro, e com grande impacto, foi o campeonato da Europa de futebol, jogado lá pelos lestes polacos e ucranianos, a encher-nos horas e horas de televisivo desporto. Depois, e acabado aquele fenómeno desportivo com a azia que se sabe para nós portugueses, mais relva. Só que, desta vez, a coisa era diferente e, sendo diferente, até a palavra passou a ser escrita no plural.

Ao que parece alguém terá andado, ao longo de anos bastantes, a brincar aos estudantes universitários. A coisa soube-se e eis que cai o Carmo e a Trindade. Que não senhor, que o homem apenas tinha pedido umas equivalências; que não senhor, que a prática de dar equivalências era coisa perfeitamente normal; que não senhor, não tinha existido qualquer tipo de tratamento de privilégio lá porque o “estudante” desempenhava cargo de galo em poleiro; que não senhor, que o homem até percebia da poda e, como tal, tinha todo o direito a ver certificadas essas suas aptidões…

Claro que o Zé, aquele Zé que, de tempos a tempos, habitualmente em ciclos olímpicos, escolhe (ou pensa escolher?…) aqueles que melhores aptidões terão para desempenhar melhor determinadas tarefas, fica de pulga atrás da orelha e a olhar de esguelha.

Então aqueles que andaram a vender ilusões são os mesmos que, chico-espertos, aproveitam conhecimento privilegiado para darem a volta a um currículo pouco digno para um governante deste país?

Então e os filhos desse e de muitos outros Zés que queimam pestanas, gastam milhares de euros, ao longo de vários anos de bancos universitários, esses não terão também direito a umas equivalênciazitas?… Sempre sairia o curso mais em conta e sabe-se como isso é importante em tempos de vacas magras…

Cá para mim tenho que é desta que o Zé, quando lhe falarem de doutores, de canudos, de cursos e mais cursos, de políticos assim e assado, vai à feira e compra um daquelas criações de Rafael Bordalo Pinheiro e lhes faz um manguito à portuguesa…

É que ao Zé parece terem-lhe ensinado que “ou há moral ou comem todos”. Ora parece que nem uma coisa nem outra. Pelos vistos nem há moral nem todos comem. E os muitos que não comem começam a ficar famintos e já se sabe que “em casa onde não há pão…”

Por: Norberto Gonçalves

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