A necessidade de se criar uma alternativa aos acessos rodoviários para o maciço central da Serra da Estrela juntou autarcas, empresários, operadores turísticos e outros intervenientes num debate organizado pela Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE) na passada sexta-feira. O objetivo era analisar a problemática dos acessos à Torre quando neva e em cima da mesa esteve o recurso à alternativa das telecabines ou dos teleféricos.
Os autarcas defenderam que se deve apostar no projeto das telecabines para resolver esse problema, sublinhando que nunca deve ser posta em causa a segurança e que a Serra da Estrela tem particularidades climatéricas a ter em conta, nomeadamente a proximidade da costa Atlântica que faz com que a neve gele mais rapidamente. «A solução dos meios mecânicos tem de ser levada em consideração porque é a que melhor resposta pode dar e é também a que reúne mais vontades», sublinhou o presidente da Câmara de Seia, Carlos Filipe Camelo. Durante a sessão, a Turistrela – empresa concessionária do turismo da Serra da Estrela – aproveitou para apresentar um projeto antigo que prevê exatamente a implementação de três telecabines de ligação à Torre. O investimento necessário ultrapassará os 35 milhões de euros (a realizar faseadamente) para a instalação de uma telecabine na zona do Covão do Ferro (perto da Nave de Santo António), outra na zona da Lagoa Comprida e outra a partir de Alvoco da Serra.
Lamentando não ter sido convidado a participar no debate, José Maria Saraiva, presidente da Associação Amigos da Serra da Estrela (ASE), considera a solução «totalmente inviável» e revela que «quem elaborou esta sugestão não tem qualquer conhecimento do que é a Serra». Para o dirigente, «não está garantida qualquer segurança» com a proposta apresentada. Segundo José Maria Saraiva, a ASE defende, em primeiro lugar, «o encerramento da estrada» ou «apenas um teleférico, na zona da Lagoa Comprida». Vítor Baía partilha da mesma opinião, afirmando que «contra as forças da natureza não vale a pena lutar», pelo que o projeto apresentado é «péssimo para a Serra da Estrela». Na opinião do montanhista, treinador de parapente e meteorologista “amador”, «falta coragem política para fecharem a estrada durante o mau tempo e investirem em viaturas adequadas para levar os turistas em segurança até à Torre». Além disso, deve-se «assumir que o acesso vai ter de fechar cerca de 30 dias, pois o vento vai impedir as telecabines de funcionarem».
Por sua vez, Telma Pombal, técnica florestal da Câmara de Belmonte, acha que o projeto «reduziria o tráfego automóvel no topo da serra», mas lembra também que «pode não haver condições para as telecabines funcionarem, tratando-se de uma serra muito ventosa». Para a engenheira florestal e frequentadora assídua das pistas de esqui da Torre, a melhor solução passaria por «construir um túnel ou um teleférico». Já no debate, o presidente da Câmara da Guarda, que se ausentou antes do final da iniciativa, começou por criticar o modelo do encontro, por a autarquia da sede do distrito não ter sido convidada para a mesa. No entanto, antes de abandonar a sala, Álvaro Amaro deixou um aviso: «Espero que o futuro, passe por quem passar, continue a afirmar a Serra da Estrela também com a Guarda». Outros intervenientes abordaram ainda a necessidade de se criarem mais bolsas de estacionamento e zonas de inversão de marcha, além de haver um reforço dos meios do centro de Limpeza de Neve. Por sua vez, o responsável pelas relações institucionais da Infraestruturas de Portugal (IP), Carlos Rodrigues rejeitou as críticas respeitantes à demora da reabertura das estradas e garantiu que «nem com o dobro dos meios se conseguiria melhorar a eficiência» devido às características da neve da Serra da Estrela. E revelou que os custos operacionais do Centro de Limpeza de Neve são de cerca de 500 mil euros anuais, recordando que «a segurança é o que mais pesa na hora de decidir abrir ou fechar a estrada».
Patrícia Garrido