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Regresso ao passado

Editorial

1. O Presidente da República levou as comemorações do Dia de Portugal a Paris. E se quando a escolha foi anunciada muitos torceram o nariz, dia 10 de junho confirmou-se que foi uma boa decisão de Marcelo Rebelo de Sousa: a portugalidade não é só para quem vive em Portugal, é para todos os portugueses que vivem em território português ou na diáspora. Em França vivem mais de 600 mil portugueses, a maioria na região de Paris, muitos já com exíguas relações com o país, mas todos com um traço de afetividade e sentir patriótico que não existe junto dos que nunca emigraram ou viveram no exterior. As comemorações junto dos emigrantes foram populares e aproximaram uma data nacional do povo – não faz sentido haver um Dia de Portugal se a sua “comemoração” não tiver relevância e significado para as pessoas.

Mas o mais interessante que se pôde ver em Paris acabou por ser, de novo, a contagiante empatia entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa (de certa forma, mesmo emocionante, pelo menos para quem não olha para o mundo sempre pelo buraco da fechadura, só vê a cor do seu partido e não consegue vislumbrar valor na harmonia institucional e na dimensão afirmativa dos dois). Mais importante, a imagem do Primeiro-Ministro a segurar o guarda-chuva enquanto o Presidente da República discursa debaixo de chuva, sorridentes, é uma imagem positiva, uma imagem que resume um certo sentir nacional e que resume um país apostado em melhorar. E é particularmente forte porque significa que este é o momento de todos remarmos para o mesmo lado. Protegem-se mutuamente enquanto querem fazer esquecer o Portugal dos últimos anos, e em especial a presidência de Cavaco Silva sempre tão sombria e amarga, tão divisionista e vingadora, tão opaca e “portuguesinha”, daquele Portugal do triste fado do tempo da outra senhora e que todos queremos esquecer. Foi bom sentir essa sintonia, essa alegria, essa confiança no futuro, que nos chegou desde a Cidade Luz entre portugueses arrojados, trabalhadores e sonhadores. O país vai continuar a viver dificuldades, mas pelo menos o ar que se respira é mais leve e positivo, pode não dar para otimismos, mas pelo menos permite alguma esperança.

2. Depois das festas, a Câmara da Guarda avança para as obras. Antes que o povo se farte, o executivo de Álvaro Amaro muda de paradigma e avança com um pacote de intervenções que visam melhorar a urbe. Não são obras estruturantes (como poderia ser a construção da ligação da Viceg à Sequeira, que foi promessa eleitoral nas últimas três eleições e que melhoraria a vida de milhares de pessoas que todos os dias têm de percorrer a Avenida de S. Miguel, atravessar a única ligação rodoviária dos dois lados da ferrovia e ainda sofrer com o único semáforo da cidade), mas são obras que contribuirão para uma melhor imagem da cidade, para uma melhor organização do espaço público e até podem contribuir para uma maior urbanidade. São obras “eleitoralistas” que pretendem mostrar um executivo que “faz” mesmo quando o que fez fica muito aquém daquilo que se esperava ou desejava que fizesse. Mas como nem só de pão vive o homem, gaste-se a bem gastar, em obras públicas que não trarão desenvolvimento, mas podem dar melhor dia-a-dia aos guardenses. Afinal, voltamos ao paradigma de há 20 ou 30 anos: todos os anos devia haver eleições para termos todas as obras, as que necessitamos e as que dão jeito para ganhar votos.

Luis Baptista-Martins

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