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Região da Guarda mais propícia ao cancro da pele

A altitude, as lides no campo e no pastoreio ou o calor das lareiras são algumas das razões apontadas

Em Portugal surgem anualmente dez mil novos casos de cancro de pele e 800 novos casos de melanoma, o mais perigoso e mortal cancro de pele. No distrito da Guarda contabiliza-se mais de dez por cento dos casos em relação aos registos nacionais. O que significa uma média superior a 200 novos casos por ano.

De acordo com o Registo Nacional do cancro cutâneo, que está on-line há dois anos, em cerca de cinco mil registos, mais de 600 correspondem à região da Guarda, o que «é um número bastante significativo», sublinha a dermatologista Fátima Cabral, do Hospital Sousa Martins, tendo em conta que o distrito tem cerca de 170 mil habitantes. No entanto, estes dados «podem não corresponder a uma estatística real, porque nem todos os serviços registam os casos», explica a dermatologista. Certo é que nesta região «há mais problemas da pele que noutras», constata a especialista. Em primeiro lugar porque estamos a mais de mil metros de altitude, «e a incidência dos raios ultravioletas não é filtrada pelas nuvens e por isso é mais intensa na Serra da Estrela do que na Figueira da Foz». Assim, a médica aconselha que não se use só protecção solar quando se vai para a praia, mas «também na pele exposta no dia-a-dia, particularmente, na nossa região». Depois, pelo grande número de pessoas que trabalham no pastoreio, no campo ou na construção civil, que «estão muitas horas expostas ao sol e com pouca roupa», refere. Por outro lado, também se regista uma «grande incidência de tumores cutâneos, no sexo feminino, principalmente, nas pernas», realça a dermatologista, o que poderá ser justificado «pela exposição solar no Verão, ou pelo calor, no Inverno, por causa das lareiras e braseiras», justifica.

Estes números têm tendência para aumentar nos próximos anos, porque apesar de todas as campanhas de alerta «ainda há uma percentagem significativa da população que mantém comportamentos inadequados em relação à exposição solar», lamenta Fátima Cabral. Mas, como mudar hábitos é muito difícil, «começámos a sensibilizar os mais novos», conta a especialista. Assim, já no mês passado, a enfermeira Paula Coutinho andou pelas escolas da Guarda a alertar as crianças do 6º ano de escolaridade. Através de jogos e histórias aconselhou para a fotoprotecção dos aprendizes. «Esta é a melhor idade para eles aprenderem alguma coisa, porque os mais velhos pensam que já sabem tudo», graceja. A par das recomendações habituais, como a não exposição solar entre as 12 e as 16 horas, o uso adequado do protector solar, a enfermeira alertou ainda para o uso do chapéu, óculos de sol e t-shirt. Destacando também que a areia, a neve e a água podem reflectir mais de metade dos raios solares. Ou seja, «a neve e a areia são autênticos espelhos, porque absorvem pouco e reflectem muito», assegura Paula Coutinho.

Além desta sensibilização junto das crianças, também «é preciso incentivar a sociedade a colaborar nesta protecção», frisa a dermatologista. Dando como exemplo a Austrália, «onde as crianças que não levam chapéu não podem ir para o recreio», ou outras áreas, comerciais ou de lazer, que «não deviam estar tão expostas ao sol», realça Fátima Cabral, sugerindo um apoio da autarquia. Outra das protecções é o vestuário: «deve-se vestir roupa escura, de malha apertada e jeans, ou tecidos com fotoprotector, que já existem», aconselha a médica. A especialista alertou ainda para os riscos da exposição em solários, que «são modelos muito experimentais propícios ao desenvolvimento do cancro cutâneo». Daí que no próximo Dia Nacional de Prevenção do Cancro Cutâneo se realize um rastreio do cancro da pele gratuitamente.

Patrícia Correia

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