O fecho dos Serviços de Atendimento Permanente (SAP) nos centros de saúde do distrito da Guarda voltou a estar na ordem do dia após a interrupção deste serviço noturno em Almeida e na Mêda no passado fim-de-semana e nos últimos dias. Tudo por causa das ferias e/ou a aposentação de metade dos clínicos dessas unidades.
Fernando Girão, presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde da Guarda, assume que o problema está na falta de médicos, «que se agudiza agora no período das férias», uma vez que aqueles centros de saúde viram os seus quadros reduzidos com a ida para a reforma de «metade dos clínicos que estavam ao serviço até ao mês passado». Nestas circunstâncias, o responsável não descarta a possibilidade dos SAP da Mêda e Almeida voltarem a fechar à noite nos próximos tempos. «É humanamente impossível que os poucos profissionais que estão ao serviço consigam assegurar durante muito tempo as consultas de dia e as Urgências noturnas», avisa Fernando Girão, que garante que o fecho destes SAP serão «pontuais» ate que se encontrem outros médicos para substituir os aposentados. «A ULS está a trabalhar para resolver este problema, que é difícil solucionar no verão, porque afeta todos os serviços de saúde do pais», sublinhou.
Segundo dados da ULS, há dez anos havia 152 clínicos de medicina familiar a trabalhar no distrito da Guarda, mas atualmente menos de 90 prestam serviço nos 13 centros de saúde da sua área de influência. Recorde-se que o Ministério da Saúde tem, desde 2008, um plano para fechar a grande maioria dos centros de saúde do distrito, no âmbito da reorganização da rede de emergência hospitalar. O objetivo é centralizar meios e recursos humanos na Guarda, Seia e Vila Nova de Foz Côa. O Hospital Sousa Martins seria o centro deste dispositivo distrital com um serviço de urgências médico-cirúrgicas, nas outras duas cidades ficariam sediados serviços de urgência básica que fariam a triagem dos doentes oriundos dos concelhos vizinhos. Este modelo conta ainda com um helicóptero do INEM em Aguiar da Beira, enquanto hospitais centrais como Viseu ou Coimbra teriam o exclusivo da urgência polivalente. Toda esta rede seria servida por uma «boa estrutura» de transportes do INEM e dos bombeiros, sendo ainda articulada com um “call center” nacional para vai orientar os cidadãos em função das prioridades ou da necessidade de transporte.
No entanto, passados estes anos, tudo continua na mesma, apesar dos avisos dos responsáveis da saúde quanto à impossibilidade de manter este sistema por muito mais tempo. Na altura, a contestação popular e dos autarcas locais foi mais forte. Mas este não é o único problema da ULS da Guarda. Em Seia, teme-se pelo encerramento definitivo de 11 extensões de saúde devido «à escassez de médicos no concelho», refere o presidente do município, Carlos Filipe Camelo. Desde o dia 4 deste mês que aqueles serviços estão fechados e assim ficarão «durante o período de férias», lê-se num oficio da ULS remetido à Câmara, onde se justifica a decisão com a escassez de médicos e o risco de «rotura do serviço de urgência no hospital Nossa Senhora da Assunção, em Seia, mas também no centro de saúde da cidade e na extensão de São Romão». Lamentando «a forma como estas mudanças foram concretizadas», a autarquia já protestou contra a decisão que considera tratar-se «mais um obstáculo à prestação de cuidados de saúde que se querem de proximidade, gerando descontentamento e o protesto legítimo das populações». Estão fechadas as extensões de Valezim, Teixeira, Vila Verde, Sameice, Santa Marinha, Girabolhos, Sases, Alvôco da Serra, Santa Eulália, Travancinha e Lajes.
Luis Martins