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Reflexões natalícias

Hic et Nunc

A causa foi completamente traída. Os animais fartos de tanto sacrifício e humilhação resolveram, num golpe definido pelo momento e pela sorte, tomar o poder permitindo que uma nova liderança se instalasse. E se é verdade que cada animal representa uma figura perfeitamente definida, não é menos verdade que cada um pense que o novo líder deve apostar novamente em princípios e valores, oferecendo-lhe assim a suma oportunidade de demonstrar a sua cabal capacidade em devolver a esperança. O fato é que esse grande chefe, pessoa de falinhas mansas, qual lobo com pele de cordeiro, introduziu uma série de novas/velhas políticas que com o decorrer dos tempos revelaram-se ineficazes, percebendo-se que quem o empurrou para a liderança foram, apenas e tão só, uma corja de bestas que apenas pretendem manter intactos os seus interesses e dos quer coabitam na esfera de influência. Este triunfo de alguns nasce e desenvolve-se a partir do sofrimento da maioria. O porco que tomou o poder dita assim novas regras, revela-se um déspota autoritário, sem sensibilidade e sem escrúpulos. E aquilo que ao princípio tinha todas as condições para ser uma revolução tranquila, percebe-se agora que não passa de uma tomada de poder onde se desvirtuam as intenções revolucionárias, sentindo-se hoje a grande maioria ultrajada e injustiçada pelo líder e por mais uma limitada vara de arrogantes, prepotentes e medíocres porcos. Os animais revoltosos ficaram entregues à sua sorte, sem direitos, apenas com deveres e muitos impostos, percebendo-se que o palavreado fácil se resumia, única e exclusivamente à máxima “todos os animais são iguais” e a seguir o grande chefe cala-se, ocultando mentalmente o final da frase conhecida, de que ele é digno representante.

A fábula que Vos trago hoje tem 67 anos num “Triunfo dos Porcos”, de Orwell, onde o britânico condena a traição de Estaline à causa revolucionária, numa tomada de poder pelos animais de uma quinta que elegeram um porco para líder.

O Natal de 2012 vai ser uma festa triste. Mesmo assim a pergunta fica no ar: O que podemos fazer pela PAZ?

O leitor já deu conta que no momento em que está a ler esta crónica morrem 5 crianças vítimas de fome, continuando a intolerância, o racismo, o fanatismo, a falta de respeito e compreensão por uma sociedade pluricultural, levando-nos a ter apenas em conta o nosso conceito ocidental, feito à nossa medida, teimando em não aceitar as naturais diferenças, nesta terra que é de todos. Se é certo que o mundo pula e avança, as desigualdades provocadas pelo mercantilismo continuam e acentuam-se, num esquema provocado pelos mesmos de sempre, os tais que não têm rosto, desregularam os mercados e provocaram esta crise sem fim à vista: os negócios das armas, do petróleo, do medicamento e da droga. E fartos disto tudo procuramos refúgio e consolação junto de instituições, que à partida deveriam estar vocacionadas para tal e testemunhamos as religiões, todas elas, poços de interesses instalados onde o fanatismo transmitido é a fé, essa que vai alimentando ódios terríveis, intoleráveis e motiva que se mate em nome de Deus. A nossa sociedade no seu imparável ritmo vai impondo esquemas de filosofia barata, baixa e de teor marcadamente terrorista: o disse-que-disse, o cinismo, a hipocrisia, o comprometer, o medo de falar, o desviar das atenções, as políticas que determinam falta de respeito, a entrega da migalha, a compra do silêncio, a cunha, a existência de camarilhas partidárias de boy’s and girl’s, o que faz com que a frontalidade e a visão real das coisas sejam substituídas pelo ajustamento e pelo modelar do ser humano às realidades, negando-se, tantas e tantas vezes, o sentido de afirmação, numa quebra completa da coluna vertebral.

E depois desta pequena reflexão, a pergunta deste Natal, mantêm-se: O que podemos fazer pela PAZ? Einstein responde “O mundo é um lugar perigoso, não devido aqueles que praticam o mal, mas sim devido àqueles que observam, sabem e nada fazem”.

Desejo sincero de um Bom Natal.

Por: Albino Bárbara

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