Diz o ditado que “à terceira, é de vez”. E assim parece ser com o projecto de recuperação da Casa da Cisterna, monumento do século XV classificado como Imóvel de Interesse Público, finalmente aprovado pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) após tê-lo chumbado por duas vezes.
As obras de terraplanagem do terreno já começaram, após um interregno de quase três anos por terem sido embargadas em Maio de 2003 face a demolições da fachada sem o devido acompanhamento de técnicos especializados. Agora, com dois arqueólogos, custeados pelo proprietário, a acompanhar as obras, António Moreira espera finalmente concretizar o sonho «sentimental» de recuperar a casa onde cresceu para ter naquele monumento cinco apartamentos T0 ou T1 para estudantes e uma taberna típica, à semelhança das que existem nos centros históricos de Lisboa, Porto ou Coimbra. A iluminação da cisterna, que poderá ser envidraçada, e um maior cuidado no jardim anexo estão também na mente de António Moreira, que estima gastar ali «mais de 40 mil contos».Para o proprietário, esta era também uma forma de revitalizar a zona velha da cidade, que há muito se encontra «sem movimento» nocturno e completamente «deserta». «Se as coisas continuam como estão no centro histórico, dentro de alguns anos não teremos ninguém a viver nesta zona antiga», aponta.
Para já, tudo parece correr “sobre rodas”, mas António Moreira não esconde o receio de surgirem mais entraves, tendo em conta todas as dificuldades e «burocracias» a que foi sujeito para revitalizar uma casa degradada. Além disso, há ainda o obstáculo da fachada. «Está inteira porque a madeira no interior a tem segurado. Mas aquilo está em ruínas e em grande estado de degradação. Assim que mexer naquilo, vem tudo abaixo», alerta, esperando que o director do IPPAR de Castelo Branco, José Afonso, visite as obras em breve para resolver o problema, pois há que manter a fachada intacta. «Não sei se o melhor não será tirarmos fotografias, deitarmos a parede abaixo e voltarmos a reconstruir pedra por pedra», sugere. De resto, ficam as críticas de António Moreira ao excesso de burocracia e ao facto de ser ele próprio a suportar financeiramente os encargos com os arqueólogos, responsabilidade que, na sua opinião, deveria ser suportada pelas Câmaras. Além de evitar todas as complicações que passou com o projecto, «estimulava ainda os proprietários a reconstruírem nas zonas antigas e a não deixarem as casas em ruínas», aponta. José Afonso, director do IPPAR de Castelo Branco, acredita, por sua vez, que o processo não terá mais entraves, uma vez que, além de respeitar a fachada, é «um belíssimo projecto», tanto assim que já foi apresentado em sessões de arquitectura.
Liliana Correia