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Recensão de Obras

Está quase aplacado o frenesim de obras do ano eleitoral. As rotundas estão feitas e embelezadas (ou enfeitadas, para as que não ficaram mais belas), a relva e as flores estão plantadas, as alterações aplicadas pela cidade estão já em uso pelo público. Falta ver o resultado das obras no Parque Municipal da Guarda, mas a inauguração está para breve e já dá para retirar algumas conclusões.

Começando por aqui, pelo Parque: numa postura de bom senso, ou pura decência cívica, a Câmara não insistiu no corte de algumas dezenas de árvores saudáveis. Do que se pode ver, retirou a cerca do parque, aplicou relvado em grande parte do solo e edificou meia dúzia de estruturas em betão armado, à entrada. A retirada da cerca é discutível, mas a que lá estava era uma vergonha. A relva tem bom aspeto, mas não se entende muito bem a sua pertinência em tempos de secas recorrentes e cada vez mais graves. Se o próximo Verão for como este que agora termina tão tardiamente, só a custo de muita rega e muita despesa o relvado se irá aguentar.

Também vão precisar de muita água as flores das rotundas e separadores das avenidas e o relvado do Jardim José de Lemos. Ou a Câmara tem previsões meteorológicas de longo prazo que mais ninguém tem, ou não se preocupa mesmo com a fatura da Águas de Portugal (agora denominadas Águas do Vale do Tejo), de quem já é uma das maiores devedoras. Quando o leitor receber a próxima fatura da água, que virá acompanhada de conselhos para evitar o desperdício, pense um pouco na ironia da mensagem.

Temos também as obras da Rua do Comércio: alteração do piso em pedra, caixotes a servir de bancos e outros caixotes a acolher (mais) flores, uma iluminação apoiada em estruturas metálicas que cobrem a rua e que vai mudando de cor, do branco ao vermelho, passando pelo azul e pelo roxo. As cores poderiam simbolizar os estados de alma por que vai passando o espectador, mas são simples testemunho do péssimo gosto de quem decidiu fazer aquilo. A utilização dos caixotes não é proporcional ao seu custo, as flores são um insulto e um encargo desnecessário em tempos de seca, o espaço entre caixotes dificulta a entrada de uma viatura dos bombeiros em caso de incêndio, as luzes não só não valorizam a rua como a desrespeitam. O todo é uma mistura enjoativa de estética pimba, despesismo gratuito (na forma de “não sei o que hei de fazer deste dinheiro que me sobrou por não pagar a fatura da água”) e sobras hipervalorizadas de um saldo do IKEA. Um conselho: deitem essa porcaria abaixo e reponham tudo como estava!

Por: António Ferreira

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