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Raízes…

Na região de Castelo Branco há duas ribeiras tributárias do rio Tejo que cruzam um vasto planalto povoado habitado desde tempos muito recuados – a ribeira de Arades e a ribeira do Aravil.

Estes nomes das ribeiras albicastrenses soam a hidrónimos antigos e podem ser equiparados a alguns nomes de grupos étnicos conhecidos na época romana como os Aravi (Aravos), que tinham por capital a cidade que agora se encontra sob as casas e as vinhas da Devesa de Marialva (concelho da Mêda), ou os castellani Araocelenses, da zona de Mangualde.

O significado dos hidrónimos Aravil e Arade perdeu-se no tempo. Os homens continuaram a pronunciá-los ao longo de séculos ou milénios mas sem conhecerem o seu significado, como aconteceu com tantos outros nomes de rios e de povoações. Durante muito tempo a tradição popular foi construindo explicações lendárias sobre a origem desses nomes que envolviam mouras encantadas e mouros guerreiros e se enraizaram na memória popular.

Só recentemente a investigação arqueológica e os estudos linguísticos conseguiram trazer alguma luz sobre a origem e o significado dos nomes de muitos dos rios, das povoações e das serras que, agora sabemos, permaneceram quase inalterados ao longo de milénios.

Curiosamente, os linguistas e investigadores do passado têm encontrado por quase toda a Europa Ocidental nomes de ribeiras e de alguns rios importantes que parecem ter a mesma origem indo-europeia e são em tudo semelhantes a muitos dos hidrónimos da Península Ibérica como parece ser o caso da ribeira do Aravil e da ribeira de Arade.

Em Itália, por exemplo, conhece-se um rio “Aranzone” e na França um afluente do rio Nive é designado de Aranta. A estes juntam-se inúmeros hidrónimos e topónimos da Península Ibérica: em Saragoça há um rio Aranda; na Galiza, os ribeiros Arados e em Rioja o rio Arandilla. No sul da Península encontramos um monte e um caminho Aranda em Málaga e em Alicante, respectivamente e o rio Arade em Portimão.

Estes hidrónimos parecem ter a mesma raiz linguística das designações de divindades dos lusitanos (conhecidas na época romana) como Arentio e Arentia venerados, por exemplo, no Sabugal, no Fundão ou em Castelo Branco. A área de devoção limita-se à restrita área localizada entre o rio Tejo e o rio Mondego e entre o Zêzere (a ocidente) e o rio Alagón (a oriente).

Embora não se saiba, ao certo, quais os atributos divinos destas divindades antigas, alguns investigadores do passado interpretam a raiz dos hidrónimos e topónimos “Ar-” como a palavra antiga para “água” e, portanto, o deus Arentio seria uma “divindade-rio”; para outros trata-se uma de divindade guerreira equivalente ao Marte romano.

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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