Os nevões são a melhor publicidade para a Serra da Estrela. As unidades hoteleiras e os restaurantes da região viveram mais um bom fim-de-semana, apresentando-se praticamente esgotados. Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela, confirma que a neve é sempre um «atractivo» para o aumento do número de visitantes e que a procura hoteleira intensificou-se «muitíssimo» antes de sábado, «principalmente para alojamento na montanha», seguindo-se depois os hotéis da periferia da serra, na Covilhã, Seia e Guarda. Uma afluência de milhares de turistas que na manhã de sábado transformou o ponto mais alto do continente no local mais congestionado do país.
Sabendo disso, os bombeiros de Seia organizaram um simulacro de despiste de uma viatura ligeira na Senhora do Espinheiro, entre aquela cidade e o Sabugueiro, para confirmar que a ausência de zonas de viragem e de parques de estacionamento dificulta as acções de socorro em caso de acidente ou bloqueio na Serra da Estrela, designadamente na estrada Seia-Torre. Mas a situação pode complicar-se devido ao comportamento dos visitantes. Virgílio Borges, comandante daquela corporação, diz ser «frequente os automobilistas não acatarem as recomendações e orientações dos bombeiros e da própria GNR, desrespeitando a sinalização ou a forma como as vias se encontram, acabando por ficar bloqueados». Indiferentes ao simulacro, milhares de visitantes procuravam mais acima, na zona da Torre e das pistas de esqui, o melhor lugar para uma descida na neve. Às onze da manhã já não havia lugares para estacionar os veículos e o trânsito escoava-se com dificuldade, sob orientação de perto de uma dezena de agentes da GNR. Ricardo Teixeira, vindo de Lisboa, foi um dos primeiros a chegar à serra. Já não vinha à Estrela há alguns anos, mas regressou para mostrar a neve à sua filha e à irmã. «Isto está um espectáculo», afirmou, enquanto procurava o melhor sítio para fazer deslizar o trenó da pequena e conseguir umas «boas imagens» para mostrar em casa. A família Teixeira só ficou um dia e regressou à noite à capital numa espécie de “raide à neve” que só a auto-estrada da Beira Interior (A23) tornou possível.
«Agora é mais rápido e vale a pena vir cá mais vezes», garante, anunciando que conta regressar noutro fim-de-semana. «Até já me informei das condições da estalagem ali em baixo para poder desfrutar melhor da serra», diz. Também foi por causa das notícias dos últimos nevões que Maria José deixou Óbidos e rumou à Estrela, ficando instalada em Manteigas. Já é uma “habituée”, só que desta vez receava «um bocadinho» que não pudesse subir à Torre. «Sabíamos que havia muita neve e quando é assim nem todos os carros conseguem cá chegar. Mas ainda bem que viemos porque o tempo está óptimo e as crianças estão a divertir-se», refere. De acordo com o comandante do posto da GNR da Torre, Carlos Fernandes, a circulação de autocarros foi cortada momentaneamente na tarde de sábado devido à forte queda de neve. Uma medida de precaução que não voltou a repetir-se, embora tivesse continuado a nevar durante a tarde e nos dias seguintes. Face a estas previsões, o coordenador distrital de Operações e Socorro da Guarda (CDOS), António Fonseca, recomenda aos visitantes o uso de correntes nos veículos e para não se afastarem das principais vias de comunicação. Já quem preferir os vários percursos pedestres deve informar antecipadamente as autoridades, GNR ou bombeiros, do percurso tomado. Por outro lado, «é vital estar sempre comunicável, pelo que todos devem levar o telemóvel com as baterias devidamente carregadas», sugere aquele responsável.