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Radioactividade na água de Seixo Amarelo e Vila Nova de Tazem

Autoridades pedem mais exames, mas garantem que não há risco para os consumidores

A DECO – Associação de Defesa do Consumidor detectou níveis elevados de radioactividade na água distribuída pela rede pública de sete localidades e em duas marcas engarrafadas. Entre as quais se destaca Seixo Amarelo, no concelho da Guarda, e Vila Nova de Tazem, em Gouveia. Os autarcas não tiveram conhecimento das conclusões e foram surpreendidos com o alarmismo das populações.

Segundo o estudo publicado na edição de Outubro/Novembro da revista Teste Saúde, editada na passada terça-feira, a água da rede pública de Areosa (Viana do Castelo), Roussas (Melgaço), Seixo Amarelo (Guarda), Porto, Vila Nova de Tazem (Gouveia), Penedono e Couto do Mosteiro (Santa Comba Dão) apresenta «valores de actividade alfa total, indicador de radioactividade, superiores ao valor estabelecido por lei». As amostras foram recolhidas no final de Fevereiro e início de Março, tendo sido apurados níveis de 0,115 e 0,330 para a actividade alfa total, quando a lei estabelece 0,1 bequerel (unidade de medida) por litro. Foi a primeira vez que a DECO realizou este tipo de estudo, que incidiu em 49 amostras da rede pública e engarrafada e identificou «indicadores de radioactividade preocupantes em sete localidades e duas marcas». Sílvia Meneses, a coordenadora do estudo, referiu que todas as entidades foram informadas dos resultados do estudo e que apenas os Serviços Municipalizados e Água e Saneamento de Viana do Castelo, onde foi encontrado o valor mais elevado, os contactaram. Com este estudo, a DECO quer que as entidades distribuidoras apurem o que está na origem deste valores, afirmando que «são um sinal de alarme, que impõe a realização de análises mais aprofundadas».

Quem não ficou muito satisfeito foi Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Gouveia, que considera «lamentável e chocante que uma instituição, como a DECO, divulgue um estudo que alarma as populações, sem nunca ter comunicado ou contactado a autarquia». Para o edil, as notícias são «pouco responsáveis e veiculadas de uma forma gratuita, podendo potenciar um alarmismo público infundamentado». Logo que a Câmara teve conhecimento destas «notícias alarmistas», foi contactada a Direcção-Geral de Saúde, que por sua vez assegurou tratar-se de um «fenómeno absolutamente normal», decorrente das características geológicas do solo. Mais se concluiu que os valores alegadamente detectados estarão significativamente abaixo do limite regularmente fixado.

«É um acto sem qualificação e não o digo por estarmos em período eleitoral», considera o edil. Para já, a autarquia recebeu a garantia de que a Direcção-Geral de Saúde (DGS) vai efectuar os estudos técnicos adequados de forma a verificar a pertinência das informações veiculadas pelo estudo. «Não obstante, o município, caso julgue necessário ou urgente, procederá às análises correspondentes», assegura Álvaro Amaro.

Com base nas informações facultadas pela DGS e com as análises de água exigidas por lei efectuadas com a frequência regulamentar, Álvaro Amaro garante que a água de abastecimento público dos sistemas do concelho de Gouveia está «em condições de ser consumida sem qualquer risco», designadamente em Vila Nova de Tazem. «Os dados não são alarmantes, o estudo é que é!», atira Maria Manuela Estevão, técnica superior da Sub-Região de Saúde da Guarda. Quanto ao Seixo Amarelo o valor do alfa total «é pouco superior» ao que está estabelecido na lei, refere a autora de um estudo sobre a qualidade da água no distrito. No entanto, «aquela referência é só um indicador com uma margem de segurança bastante grande», justifica. Segundo a técnica, o estudo foi feito com base numa única mediação e «é necessário saber se se trata de uma situação pontual ou continuada no tempo, bem como a quantidade de água naquelas condições, para avaliar os riscos para a saúde pública». É que apesar de estar perto do limite, «não apresenta risco para a saúde das populações», garante a responsável. Entretanto a Sub-Região de Saúde também já contactou o Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR), que comunga da mesma opinião. Em comunicado, o IRAR refere que «o estudo carece de rigor» e «os valores de radioactividade encontrados pela DECO não permitem de forma alguma tirar conclusões». Porém, já foi recomendado que todas as entidades gestoras de abastecimento de água procedessem ao controlo da radioactividade na água. Até ao fecho desta edição não foi possível obter um comentário da Câmara da Guarda.

Água sem qualidade para 20 por cento da população do distrito

Entre 20 a 25 por cento da população do distrito da Guarda tem água da rede sem qualquer tipo de tratamento, nem mesmo a desinfecção por cloro. Esta é a principal conclusão do programa de vigilância da água de consumo humano realizado pela Sub-Região de Saúde no ano transacto. Os resultados foram apresentados em Junho num seminário sobre a temática e revelam ainda que em 2004 mais de 2.300 habitantes consumiram água com vestígios de alumínio, ferro, bromato e arsénio, enquanto que numa localidade do concelho de Trancoso foi detectada radioactividade na rede.

Para Manuela Estêvão, que apresentou os dados, estes são problemas antigos, «mas a situação tem melhorado». A técnica superior da Sub-Região de Saúde garante mesmo que a população abastecida com água não potável era «muito maior» em anos anteriores. Um cenário que tem vindo a alterar-se com a entrada em funcionamento, nos últimos dois anos, de alguns sistemas de abastecimento de origem superficial que garantem a melhoria substancial da qualidade da água. «Há concelhos que eram muito maus e melhoraram, caso de Pinhel e Almeida, agora abastecidos por grandes sistemas com controlo de qualidade e tratamento adequados. Mas ainda há municípios que mantêm sistemas antigos, como Aguiar da Beira ou Manteigas. Neste último caso, os problemas surgiram recentemente porque há muitas captações e um sistema de tratamento em que é difícil fazer o controlo», adiantou Manuela Estêvão.

A responsável considerou que a falta de qualidade da água em vários pontos de quase todos os concelhos do distrito tem a ver com as «más práticas de tratamento», pelo que defende uma desinfecção total do sistema para garantir a manutenção do cloro residual, porque «a contaminação pode estar na rede ou na torneira em casa das pessoas». Admitiu por isso que «grande parte» do problema do abastecimento no distrito ficará resolvido se estes problemas forem solucionados. Manuela Estêvão defendeu igualmente a necessidade de voltar a vigiar os 457 fontanários referenciados para consumo no distrito. «Com o abastecimento público na casa das pessoas, as autarquias acharam que não haveria interesse em fazer o controlo e a manutenção dos fontanários. Acontece que, infelizmente, ainda temos muitas situações em que eles são o único recurso», disse.

Patrícia Correia

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