As torres dos radares da Força Aérea Portuguesa (FAP), situadas no ponto mais alto de Portugal continental, passaram para a tutela da Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE). A decisão política já está tomada, faltando apenas a conclusão do processo administrativo da passagem dos imóveis para a propriedade do organismo de turismo regional.
«Sinto-me satisfeito», admitiu a “O Interior” Jorge Patrão, presidente da RTSE, por ter finalmente conquistado uma velha aspiração. Há vários anos que aquele organismo reclamava a cedência das míticas estruturas para proceder à sua recuperação. As torres dos antigos radares encontram-se em avançado estado de degradação arquitectónica, sendo que o caso mais grave, praticamente em ruínas, é a da torre abandonada. A outra foi recuperada parcialmente para acolher o posto sazonal da GNR da Serra da Estrela.
Por enquanto, está ainda por definir que tipo de cedência será feita. Só depois do processo de desafectação do domínio público militar estar todo definido é que a RTSE vai «pensar num projecto de requalificação» dos imóveis. Por enquanto, prevalece a vontade de requalificar as duas torres, o edifício da antiga messe da Força Aérea e algumas oficinas em ruínas no projecto global de valorização da estância de esqui. A ideia consiste em integrar aqueles imóveis na nova unidade hoteleira de quatro estrelas, com restaurante panorâmico para as pistas, que a Turistrela, concessionária do turismo na Estrela, pretende implementar.
Até porque têm uma ligação por túneis que podem ser potenciados como zonas de serviço ou de complemento da nova unidade. O projecto de valorização da estância engloba igualmente a ampliação das pistas, um trabalho entregue a técnicos espanhóis. Um propósito que a Turistrela já tinha defendido, argumentando que só faria sentido requalificar a estância se todos os antigos edifícios localizados no ponto mais alto da serra passassem para a sua gestão. No futuro, os radares poderão ainda ser utilizados como «posto de informação» aos turistas ou para um «observatório panorâmico», sugere Jorge Patrão. Por serem os «edifícios mais altos do país, acima dos 2.000 metros de altitude», proporcionariam uma «visão geográfica excelente» de «mais de metade do território nacional», adianta, avançando já com a possibilidade de instalação de telescópios e outras tecnologias de ponta. «É uma ideia que me agrada», confessa o presidente da RTSE.
Por definir estão ainda os materiais a usar nas torres de forma a transformar o local. Actualmente, o lixo, estruturas desregradas e edifícios em ruínas têm contribuído para uma imagem negativa da Torre. É aliás durante os meses mais quentes, sem o encanto da neve, que se acentua o estado de degradação nos dois mil metros de altitude. Recorde-se que a equipa responsável pelo Plano Estratégico de Turismo na Serra da Estrela (PETUR) já tinha sugerido uma remodelação da zona, que classificou como um local «desprezível e sujo».
Processo de Desafectação já está em marcha
O Governo aprovou recentemente a desafectação das Torres de Radar do Domínio Público Militar (DPM), pertencentes à Força Aérea Portuguesa, e a sua consequente afectação à Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE). O pedido já tinha sido feito pela Turistrela há alguns anos, mas nunca foi atendido pela FAP pelo facto de se tratar de uma empresa de capitais mistos. É que a cedência só seria aprovada para uma empresa ou entidade estatal. O processo de desafectação vai agora ser desencadeado por despacho do ministro da Defesa, através da Direcção-Geral de Infraestruturas, sendo que a reafectação dos imóveis por outra entidade dependerá então de um despacho conjunto dos ministérios da Defesa, Finanças e da Economia, que tutela a RTSE. As torres foram construídas pela Força Aérea Portuguesa entre os finais de 1950 e meados da década de 60, entre outros edifícios, para acolher a Esquadra 13 do Grupo de Detecção Alerta e Conduta de Intercepção. A esquadra foi desactivada na década de 70, pelo que a grande maioria das instalações foram sendo desocupadas até serem devolvidas ao Ministério das Finanças em 1992. As torres de radar foram as únicas excepções, tendo sido utilizadas até há poucos anos pela FAP.
Liliana Correia