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Quem salva o Paço de Melo?

Na aldeia de Melo (Gouveia), terra natal de Vergílio Ferreira, existe uma construção de grande antiguidade e elevado interesse histórico e arquitetónico que poucos, infelizmente, conhecerão. E, no entanto, o Paço de Melo é uma das raras joias que, pelo halo “romântico” da sua cerca ameada e da sua torre, mas também pela pujança do corpo principal que ainda resiste, mereceria a consideração de quem gere a coisa pública. Tal como está, o Paço agoniza aos poucos, em cada dia que passa, à espera de quem o salve da ruína definitiva.

O Paço de Melo data do século XIII, altura em que Mem Soares de Melo o mandou erguer para solar da família no centro dos seus domínios senhoriais. Os antepassados tinham ganho fama e privilégios nas lutas da reconquista cristã. A estes pergaminhos guerreiros, os Melos viriam a acrescentar, ao longo da história, um prestígio que fez desta família nobre uma das mais destacadas de Portugal. O relevo nacional da família deixou inevitáveis marcas no Paço que abrigou sucessivas gerações. A casa foi sendo objeto de ampliações e intervenções várias ao longo dos séculos, observáveis nas ruínas que ainda restam. (…).

Consciente da sua importância e da imperiosa e urgente necessidade de nele intervir, a Câmara de Gouveia deliberou, em 2003, adquiri-lo junto do último representante da família proprietária, o arquiteto Bartolomeu Costa Cabral. Foi celebrada a escritura e avançou-se com a encomenda de um projeto de intervenção a um gabinete de arquitetura do Porto. Tanto quanto sabemos, a edilidade pretendia propor o projeto à consideração da administração central, dadas as verbas envolvidas. Entretanto, um trabalho de final de curso de uma jovem arquiteta do concelho de Seia teve como objeto uma proposta de intervenção no Paço e foi muito bem acolhido por um júri presidido pelo próprio arquiteto Costa Cabral.

Propunha-se a instalação de um Centro Vergiliano que integraria uma pequena unidade hoteleira (…) e uma filosofia de intervenção que respeitava o existente (reabilitando-o), a criação de novos espaços funcionais, a reabilitação do envolvente e a intervenção urbanística destinada a trazer o Paço a uma nova centralidade na malha urbana de Melo, em diálogo com a casa do escritor e a praça que os deve unir.

Como quer que seja, não pode a Câmara de Gouveia – não podem o Governo e a tutela da Cultura! – enviar para a ruína irreparável um espécime tão significativo da nossa arquitetura senhorial e que tanto pode valorizar a região numa das vertentes de que mais carece: a criação de um polo de turismo cultural. Exigem-no a majestade ancestral do Paço de Melo e até a memória do enorme escritor que à sombra dele cresceu e formou a sua sensibilidade estética.

A. Silva Brito, carta recebida por email

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