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Quem Paga?

Os estudantes boicotam a abertura do ano académico em Coimbra; da sua lista de queixas constam a carga policial do ano passado e a velha questão das propinas que não querem pagar. Os agricultores manifestam-se em Lisboa, exigindo subsídios compensatórios dos prejuízos que tiveram com a seca. Os militares manifestam-se também, exigindo respeito pelas suas regalias e pelas suas carreiras. No Fórum da TSF, sucedem-se intervenções inflamadas reclamando contra o encerramento de escolas sem um número mínimo de alunos. Magistrados e funcionários judiciais fazem greve pelos seus direitos e regalias. Os funcionários públicos em geral protestam, fazem greve e manifestam-se contra o congelamento de salários e carreiras, assim como contra o aumento da idade da reforma (os polícias dizem que não conseguem apanhar ladrões aos sessenta anos e as enfermeiras sentem-se velhas a partir dos trinta e quatro). Mas não é só a função pública, que os sindicatos e a oposição ao governo, sobretudo a de esquerda, reclamam pela manutenção do poder de compra dos trabalhadores em geral. Ninguém aceita a subida de impostos, a diminuição de rendimentos, a perda de direitos.

No meio de tanta reclamação conjunta, e peço desculpa aos que reclamam com razão, que serão certamente muitos, é inevitável metê-los a todos no mesmo saco. E, vistas as coisas assim, é inevitável concluir-se que é impossível satisfazer todos, que não há recursos para acudir a tantas reclamações. Isto dando de barato que o estado da nossa economia e das nossas finanças é mau, embora de preferência não tão mau como, por exemplo, diz Medina Carreira em artigo publicado no “Público” da última terça-feira (onde conclui que, para se começar a ultrapassar a crise, é necessário fazer sacrifícios muito maiores do que aqueles que implicam as actuais políticas do governo).

É verdade que há os compromissos eleitorais do governo, como por exemplo a jura de não subir os impostos (a reposição de um filme antigo). É verdade que há os direitos adquiridos e os contratos celebrados. Mas falta encontrar uma resposta para a pergunta dos milhares de milhões de euros: a quem vamos então pedir sacrifícios?

Por: António Ferreira

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