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Quebra generalizada na produção de uvas da Beira Interior

Granizo e míldio são os principais “culpados” pela redução que, nalguns casos, pode chegar aos 90 por cento

A queda de granizo e o míldio são os principais motivos que explicam a redução generalizada que vai afetar este ano a produção de vinho na Beira Interior. No entanto, apesar da diminuição na quantidade de uvas, que nalgumas situações poderá atingir mesmo os 90 por cento, a generalidade das cooperativas e dos produtores da região ouvidos por O INTERIOR acredita que a qualidade dos vinhos será idêntica à do ano passado.

O Fundão parece ser o concelho mais afetado, uma vez que o presidente da Adega Cooperativa local estima uma redução «entre 50 e 70 por cento a nível geral», embora haja produtores com «quebras de 80 a 90 por cento». As razões foram o míldio, bem como o «mau tempo com chuvas ácidas que queimaram as uvas, porque há zonas em que as videiras estavam debaixo de árvores e nada apanharam», refere Albertino Nunes, que no seu caso particular irá ter uma quebra de «mais de 80 por cento». Deste modo, «este é um mau ano em termos de produção, mas de momento temos stocks para fazer face ao mercado». Quanto à qualidade, é «excelente», a graduação é «boa» com 14 graus nos tintos e 13 nos brancos, afiança. A campanha na adega fundanense, que no ano passado recebeu 3,5 milhões de quilos de uvas, começou a 26 de agosto e prolonga-se até dia 23 deste mês. Já o presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior estima que possa haver uma «redução significativa na ordem dos 30 a 40 por cento de uma forma global» porque «grande parte dos vitivinicultores da região são pessoas que não têm estrutura nem dimensão para estarem a controlar exaustivamente a produção».

As causas para quebras tão acentuadas são o «granizo, o míldio e oídio», indica João Carvalho, que reconhece que esta redução é «preocupante», uma vez que, «nalguns casos as receitas ficarão aquém dos custos». Na semana passada a ministra da Agricultura afirmou que há ajudas disponíveis para os vitivinicultores de Palmela, que preveem uma quebra da produção de vinho de 80 por cento, devido ao problema do míldio e condições climatéricas adversas. Assunção Cristas garantiu que há alguns apoios disponíveis, seja através de uma linha de crédito ou do Sistema Integrado de Protecção contra as Aleatoriedades Climáticas (SIPAC), mas reconheceu que é mais difícil dar resposta à questão do míldio. No entanto, o responsável pela CVRBI diz não ter ainda conhecimento de que esses apoios também possam vir para a Beira Interior. «De uma forma geral os agricultores têm seguros de colheitas, mas vamos esperar para ver», refere.

«O tempo está para profissionais e não para amadores»

O também proprietário da Quinta dos Termos, na zona do Carvalhal Formoso (Belmonte), frisa que no seu caso específico «há, de facto, alguma quebra devido ao granizo caído a 30 de abril e também por causa do míldio», mas realça que «o tempo está para profissionais e não para amadores. Quem teve míldios e oídios significativos o melhor é mudar de técnicos, porque isto é um pouco como as pessoas quando vão ao médico. Se continuam doentes, o melhor é mudarem de médico», ironiza. Deste modo, a produção deste ano «não deverá andar longe» das 700 toneladas recolhidas em 2010 e a qualidade está «ótima», assegura. Também na Adega da Covilhã se prevê uma «quebra na produção» relativamente às 800 toneladas de 2010 mas o seu presidente prefere não avançar um número provável desse decréscimo, embora aponte para uma redução de «50 por cento em algumas explorações e noutras talvez mais». A razão «principal foi o míldio, já que não estamos muito habituados a isso» mas também «algumas trovoadas» fizeram estragos, sendo que as zonas do Ferro e Peraboa são das que ficaram mais mal tratadas, indica Matos Soares. Em relação à qualidade acredita que «em termos gerais não será afetada». A campanha de recolha de uvas começa segunda-feira e prolonga-se por três semanas.

Cooperativa Beira Serra contraria tendência de decréscimo

Também na Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo se perspetiva uma quebra de «25 a 30 por cento» na produção de uvas deste ano (6 milhões em 2010). «Fatores diversos» motivaram esta redução como «intempéries com algumas trovoadas de granizo», «o míldio generalizado em todo o país» e o «oídio em menor escala», aponta o presidente da direção. Aurélio Bolota indica que «em princípio a qualidade não será muito afetada porque as uvas atingidas pelo míldio acabam por cair». A campanha deve iniciar-se dia 15 deste mês e prolongar-se por três semanas. No concelho vizinho de Pinhel as expetativas são «semelhantes às do ano passado em que tivemos problemas graves com a geada e em que tivemos prejuízos na ordem dos 30 por cento», indica o presidente da Cooperativa que em 2010 recebeu 11,8 milhões de quilos de uvas. Já este ano «tivemos problemas com o míldio e também com as más condições climatéricas como o granizo», daí que Agostinho Monteiro preveja uma «quebra de 25 a 30 por cento em relação a um ano normal». Sobre a qualidade, «se a vindima for realizada com tempo seco vai ser um ano muito bom», enquanto que se chover poderá sair afetada. A campanha de receção das uvas começa dia 17 e termina a 18 de outubro, sendo que a Adega vai estar aberta dia 25 e 9 de outubro, dois domingos, para «facilitar a vida às pessoas que têm os seus empregos durante a semana».

Também Luís Roboredo, produtor dos vinhos Gravato, na zona da Coriscada (Mêda) prevê uma produção «inferior à do ano passado» (cerca de 58 toneladas de uvas) entre «os 25 e os 30 por cento». As explicações para a quebra são o míldio e o «problema de ter chovido a mais no inverno e a menos no verão» e «o vento leva as folhas e as uvas ficam mais desprotegidas». O empresário prevê uma qualidade «inferior devido às alterações climatéricas que se vêm registando»: «O clima não tem ajudado as castas portuguesas que estavam habituadas a quatro estações e agora praticamente que só há duas». A vindima deverá começar por volta de dia 15 e durar uma semana.

Uma exceção à tendência de decréscimo é a Cooperativa Beira Serra, em Vila Franca das Naves (Trancoso), onde a sua presidente está «à espera de mais uvas», embora prefira não quantificar esse aumento até porque «os associados prevêem que vão ter mais uvas mas não é certo que essa previsão vá corresponder à realidade». Em 2010 a Cooperativa recebeu cerca de quatro milhões de quilos de uvas e a campanha deste ano começa a 22 deste mês e prolonga-se até 15 de outubro. Josefina Torres está «bastante otimista para esta campanha em termos de qualidade e quantidade», acreditando que «vamos ter uma belíssima produção». De resto, garante que «não tivemos grandes problemas de míldio e de granizo».

Quinta do Cardo entre o top 50 dos vinhos portugueses nos EUA

O vinho Quinta do Cardo 2006 Touriga Nacional Reserva da Beira Interior, produzido na zona de Figueira de Castelo Rodrigo, foi um dos eleitos pela International Wine Review para integrar a sua seleção dos 50 vinhos Portugueses nos Estados Unidos. Esta seleção foi realizada a partir de uma amostra de mais de 500 vinhos portugueses provados para a elaboração do relatório que a International Wine Review publicou no início do ano.

Ricardo Cordeiro

Comentários dos nossos leitores
Agostinho CALHEIROS acalheiros@earthlink.net
Comentário:
ARTIGO BEM ELABORADO, PARABENS.
 

Quebra generalizada na produção de uvas da
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