Há em tudo isto um pouco de aprendizagem. As eleições trazem a visão de que há mesmo uma idade para cada coisa e um tempo certo para cada pessoa. Contrariamente a Manuel Alegre, sei que a cidadania que o envolveu não se continua para além do acontecimento e sei de milhares que ontem foram dele e amanhã não voltarão. O facto esgota-se em si mesmo, como antes aconteceu o afogamento do PRD e a cidadania de Otelo Saraiva de Carvalho. Em torno de uma personalidade como Eanes afundou-se um projecto de Quixotes e de Sanchos e com Otelo resta “ninguém” depois de passar uns anos de cadeia e já sem bigode. Os mesmos de Pintassilgo gravitaram com Manuel Alegre, sempre donos de luzes que os simples não alcançam e de verdades que só eles sabem. O palácio da vaidade é o lugar onde quem entra vê a luz e tudo à sua volta é escuridão. Como na descoberta Maná, ou na Igreja dos Santos dos Últimos Dias, uma crença que é deles e uma verdade que é a que eles exigem para todos.
Mas das eleições fica a malha dada em Soares.
Uma malha inquestionável que termina com um ganhador de eleições e de Congressos. Uma malha que castiga um estilo agressivo e repetitivo, quase raiando a insinuação maldosa que não era apanágio do grande Soares de 75. “Olhe que não dr. Cunhal”. Mário Soares sai pela porta curta e só não se suja para a história porque já lá cabia inteiro e esta parte ninguém lembrará. Cavaco esteve tão perto de ter uma segunda volta como Louçã de não chegar aos 5 por cento. Mas desta verdade falam pouco. Por muitas como esta é que espantam os políticos, as suas análises viciosas, muito dirigidas ou estudadas. A esquerda levou mesmo uma sova que não convém esquecer.
Por: Diogo Cabrita