Se o público não vai ao teatro, vai o teatro ao público. Foi esta a máxima que a Quarta Parede – Associação de Artes Performativas da Covilhã promoveu no último fim-de-semana com o espectáculo “Vou a Tua Casa”, da autoria de Rogério Costa.
Tudo começa a partir do momento em que o actor/intérprete entra na casa dos espectadores. Não há palco, cortinas ou os típicos projectores das salas de espectáculo. Apenas o espaço partilhado por mais oito pessoas, onde tudo é um ponto de partida para a criação: o silêncio, a desconfiança, as expectativas, o chão, os objectos, as janelas, o tempo… Nada mais para além da simples aventura artística ou teatral, em que não parece haver limites para a criação. A partir de um tema banal, Rogério Costa desenvolve um diálogo e um convívio com os espectadores. É um jogo que não se sabe muito bem onde começa e quando acaba. Pelo meio, há conversas, textos e gestos improvisados e outros preparados. Há mentiras e verdades. Aliás, esta foi a dialéctica em que se concentrou o espectáculo e «onde todos participaram», refere o autor. Mas o espectáculo que decorreu em casa de Rui Sena – director da Quarta Parede – não é o mesmo nem igual ao que acontece nas outras casas. «Mudo consoante o tipo de público e também conforme o meu estado de espírito na altura», acrescenta.
O único elo de ligação entre todos os espectáculos é o «quotidiano e as experiências» do actor, que são sempre transportados para junto dos espectadores. Depois, é só lidar com a energia das pessoas para desenvolver o trabalho. Inicialmente, a reacção dos espectadores é sempre de «desconfiança, intriga e expectativa, mas quando se apercebem do jogo e das regras, a preocupação vai-se dissipando aos poucos», garante. Para Rogério Costa, desenvolver o projecto “Vou a Tua Casa” é, acima de tudo, «estimulante», pois é uma «folha em branco» onde cada espaço serve de cenário e cada objecto é um adereço. É como se se tratasse de um «tubo de ensaio», pois «tudo é possível». Principalmente «falar do que faço e como faço», até porque confessa que as experiências em palco sempre o deixaram insatisfeito. «Fazer a mesma coisa todos os dias para uma massa anónima é doloroso. Como actor e intérprete, tenho sempre vontade de saber para quem estou a representar», refere.
Apesar de não conhecer os oito espectadores para quem contracena, salvo algumas excepções, em “Vou a Tua Casa” Rogério Costa tem a oportunidade de «fazer algo para as próprias pessoas, de poder entrar na sua intimidade e privacidade». É claro que é um território em que está sempre na “corda bamba” mas, ainda assim, considera estar num plano de «igualdade» que o aproxima do público. Mas “Vou a Tua Casa” é também um ponto de partida para o autor concluir este ano a tese de mestrado em História da Arte Contemporânea. Ao fim de uma 1h10, o sentimento de bem-estar e boa disposição era evidente no seio da pequena assistência. Para Pedro Fonseca, a performance foi antes de mais «um convívio entre pessoas», mas que o surpreendeu, pois não estava à «espera de um monólogo». Por isso, o que mais apreciou foi a forma como o espectáculo decorreu. Com esta proposta, a Quarta Parede pretende iniciar o projecto Pong, uma iniciativa de sensibilização de públicos adultos, à semelhança do que acontece com o Ping – projecto de sensibilização do público infantil. Reconhecendo tratar-se de um espectáculo «diferente», Rui Sena destaca a «vitalidade» que as novas artes performativas vieram trazer às disciplinas artísticas, já que o que importa é que o espectáculo seja «enriquecedor para o espectador».
Liliana Correia