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Quanto custa um santo? Quanto custa a fé?

A Fé não tem preço. Mas chegar a santo custa mais de 14 mil euros, pelos valores mundanos. É o que nos ensina o recente livro do cardeal D. José Saraiva Martins. Um dos ministros do Papa, com privilegiado apartamento virado para a Praça de S. Pedro e que tem a seu cargo uma das mais extraordinárias pastas do governo do Vaticano: a Congregação para a Causa dos Santos. Exactamente, quem decide quem deve ser considerado beato ou santo.

Ainda que o Vaticano congregue a primeira linha dos representantes de Deus, não basta a infalibilidade do Papa e a iluminação do Espírito Santo, é preciso pagar a algumas divindades terrenas (teólogos, médicos, etc.) para que façam prova da santidade de alguém.

Prefiro continuar a acreditar que a Fé não tem preço. Da mesma forma que, comungo das palavras de Kierkegaard, quando afirmava “que a Fé não precisa de prova; deve mesmo encará-la como sua inimiga”. A Fé na santidade de alguém supera as provas.

Já aqui referi que, pelo seu testemunho de humanidade, de provação e dor, João Paulo II ilumina os meus pensamentos e gosto de chamar o seu espírito às minhas orações. Vale mais que muitos ‘santinhos’ guardados como marcadores nas páginas da Bíblia. Que os “especialistas” do Vaticano o considerem Santo ou não, é para mim irrelevante. Depois de tantos anos com o título de Santo Padre, não preciso que teólogos promulguem o que ele, em vida e pela sua vida, já ganhou “honoris causa”.

A escolha da Virgem de Fátima

Da mesma forma, vejo com apreensão o processo de beatificação dos Três Pastorinhos. Franscisco e Jacinta foram beatificados ao fim de muitos anos (A Irmã Lúcia ficou de fora por, na altura, estar viva, tendo-se iniciado um processo de beatificação após a sua morte). Contudo, a beatificação ocorreu porque uma senhora afirmou que voltou a andar, curada pela Fé – sem que os “especialistas” tenham encontrado outra explicação.

Três crianças são escolhidas pela Virgem para a sua aparição terrena. Uma escolha divina que parece não ter importância suficiente para o Vaticano. Como se fosse algo banal, coisa de todos os dias. O que me deixa perplexo: ou os “especialistas” do Vaticano não acreditam no aparecimento da Virgem de Fátima ou a Sua escolha não tem qualquer importância, ser Beato ou Santo, só pela deliberação dos “especialistas” da Congregação para a Causa dos Santos. Como sublinhou o cardeal D. José Saraiva Martins em entrevista à SIC, “não há ‘cunhas’ nestes processos”. Pelos vistos, à Irmã Lúcia, nem que tenha sido escolhida na terra pela Mãe de Cristo, lhe confere entrada directa na constelação de beatos. Sobre a vontade divina estão ainda os homens do Vaticano.

Nota: Quando a morte tem nome!

Escrevo no dia em que a TVI explora ao máximo a morte e funeral de Francisco Adam – o Dino de “Morangos com Açúcar” (Uma série que, sem pudores, digo que vejo ao lado da minha filha antes do jantar). Sem me pronunciar sobre a (questionável) atitude da TVI, devo afirmar que tinha uma certa admiração por este jovem actor e pela vivacidade que oferecia ao seu papel. Talvez essa vitalidade e alegria tornem mais contrastante a sua morte e, por isso, o choque tenha sido tão grande.

A notícia podia ter sido uma como tantas. Números e estatísticas na estrada. Esta teve o condão de despertar consciências pois mais que um número foi um nome, um rosto, uma vida…

Quando a morte deixa de ser estatística e passa a ter um nome, então despertamos para a dura realidade.

Espero que a morte de um ídolo de juventude passe a mensagem urgente de que é preciso civismo na estrada e que, mais do que números e coisas distantes, a morte é algo que nos pode tocar! Se não vamos lá pela educação, que pelo menos o medo tangível da morte nos desperte!

Post scriptum: Muitas pessoas não choram o Francisco… choram o “Dino”. O que nos deve fazer reflectir sobre a alienação entre a realidade e a ficção e o papel de massificação acrítica da TV!

Por: João Morgado

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