Rui Quinaz insiste que o resgate financeiro da Câmara da Guarda «está para breve». Na reunião do executivo da última segunda-feira, o vereador social-democrata voltou a acusar a maioria socialista de «branquear a dívida» e de «desvalorizar a verdadeira situação financeira» do município, que já se encontrará em «pré-falência», avisou. Joaquim Valente negou que assim seja e vai apresentar na próxima sessão um relatório circunstanciado «com o deve e haver» da autarquia.
No dia em que o executivo aprovou as contas consolidadas de 2010 do grupo Câmara, empresas municipais incluídas (Culturguarda, Guarda, Cidade Desporto e Sociedade Hotel Turismo), com o voto contra do eleito da oposição, Rui Quinaz quis desmascarar a argumentação que o presidente levou à última Assembleia Municipal. «A situação atual é gravíssima e não tem nada a ver com investimentos e menos receitas», considerou. Pelas suas contas, a dívida consolidada já é de 71,2 milhões de euros: «É um valor escandaloso quando se sabe que a dívida consolidada a fornecedores é de 24 milhões, dos quais 16 milhões dizem respeito só a compromissos da Câmara», declarou. No caso da autarquia, a dívida era de 61 milhões no final de 2010, «o que significa um aumento de sete milhões relativamente ao ano anterior», disse, não duvidando que estes dados anunciam «a pré-falência» do município guardense.
O vereador social-democrata garante que se chegou a este ponto por causa do défice estrutural «criado por esta maioria», contrapondo que nos executivos anteriores a Joaquim Valente o endividamento da edilidade era «atribuível a algum investimento, o que não é o caso agora». Relativamente às receitas correntes, Rui Quinaz alega que cresceram cerca de 24 por cento desde 2006, embora tenham diminuído um milhão de euros de 2009 para o ano passado. Por isso, «gestão ruinosa» é a única explicação que encontra para a situação. E justifica: «O défice de exploração em 2010 foi de 10 milhões de euros, ou seja, fez-se despesa nesse valor sabendo que não havia dinheiro para pagar», afirmou, sublinhando ainda que desde 2005 o défice de exploração ultrapassou os nove milhões por ano. Desta vez, o presidente escusou-se a reagir às afirmações de Rui Quinaz, sublinhando que o documento que virá à próxima reunião do executivo não dará lugar «a leituras manipuladas e demagógicas».
Mas, aos jornalistas, Joaquim Valente disse que o vereador do PSD «não sabe ler os números», acusando-o de «os manipular por desconhecimento ou má-fé». O edil socialista também negou que a Câmara esteja em pré-falência, dizendo apenas que «está em dificuldades, como a grande maioria dos municípios». Daí estar-se «a cortar despesa nalguns setores, mas sem pôr em causa oportunidades de investimento», acrescentou.
Festas da cidade continuam na gaveta
Este ano também não haverá festas da cidade. Tal como no Verão de 2010, a autarquia vai associar-se às festas populares das freguesias e aos eventos das coletividades do concelho, confirmou Joaquim Valente. «Não haverá grandes investimentos», disse. Entretanto, o município aprovou a compra à Culturguarda de DVD’s do espetáculo “Guarda: A República” – que financiou – para serem oferecidos às associações participantes. A medida vai custar 500 euros. «É um dos mecanismos que se usa para financiar a empresa municipal», comentou Rui Quinaz, que também denunciou as «condições deploráveis» em que se encontra o mercado municipal. Nesse sentido, o presidente da Câmara pediu para a próxima reunião o relatório sobre a intervenção levada a cabo recentemente pelos serviços municipais. E por falar em documentos, o social-democrata oficiou o executivo para que lhe fossem disponibilizadas cópias do relatório de avaliação do Hotel Turismo, das propostas de aquisição e da escritura de compra e venda do edifício pelo Turismo de Portugal. Valente esclareceu que os mesmos tinham sido entregues aos deputados municipais, não sem antes acusar o PSD de querer «colocar grãos na engrenagem» deste negócio. Uma ideia refutada por Rui Quinaz.
Luis Martins