«Frontal, mas sem tensão ou animosidade», foi assim a reunião da comissão política concelhia do PS da Guarda realizada na última segunda-feira para analisar a pesada derrota autárquica na capital do distrito, que os socialistas perderam ao fim de 37 anos para o social-democrata Álvaro Amaro. O encontro durou cerca de cinco horas e terminou perto das três da manhã.
«Era a reunião que se impunha e disse-se de tudo, sem rodriguinhos, porque só se chega a um resultado destes com um conjunto de falhas que foram identificadas», adiantou um dirigente socialista que pediu para não ser identificado. Com a hecatombe eleitoral ainda bem presente – o PS perdeu 6.753 votos relativamente a 2009 e está reduzido a dois vereadores no novo executivo –, os socialistas da Guarda fizeram o seu ato de contrição e esperam que este seja «o ponto de partida» para reorganizar e unir o partido. «Temos que aprender com os erros e conseguir a renovação de protagonistas e de atitudes que se impõe», afirmou a mesma fonte. O INTERIOR apurou que na reunião foram apresentados vários motivos para a derrota de 29 de setembro, mas que nenhum foi consensual. «Houve quem achasse que a cisão de Virgílio Bento foi determinante, outros invocaram o desgaste de 37 anos de poder, sobretudo dos últimos mandatos, mas quem estava atualmente na Câmara culpabilizou a gestão e a forma como decorreu a campanha de José Igreja», referiu outro militante.
Joaquim Valente, presidente de Câmara cessante e candidato à Assembleia Municipal, esteve debaixo de fogo, mas não foi o único com vários dos presentes a apontar erros «à estratégia, opções e à falta de empenho» de José Igreja. Também Nuno Almeida, presidente da concelhia que está demissionário desde as eleições e era diretor de campanha, e Vítor Santos foram alvo de críticas. No que todos concordaram foi que a derrota de 29 de setembro foi «uma surpresa na sua dimensão», tendo um militante ouvido por O INTERIOR acrescentado que «a expressão dos números foi um castigo por o PS não ter sabido renovar-se e adaptar-se à realidade». Para este socialista, o principal problema foi «a municipalização do partido»: «Houve um conjunto de pessoas que se fechou na Câmara e não se abriu à sociedade e até ao partido, tanto assim que esses militantes não se sentem responsáveis pelo que se passou nos últimos anos na Guarda», exemplificou, escusando-se a apontar nomes.
Este final de ciclo ficou ainda marcado por militantes que «trabalharam contra o PS e nem sequer o disfarçaram», lamentou a mesma fonte. Em causa estão apoiantes de Virgílio Bento que participaram ativamente no movimento “A Guarda Primeiro”, mas que, «ao contrário deste e de José Manuel Brito, não suspenderam a militância ou entregaram o cartão». Por isso, este protagonismo vai ter consequências, sendo certo que «ou saem por iniciativa própria, ou serão afastados». Na reunião de segunda-feira estiveram presentes Joaquim Valente, Vítor Santos, Nuno Almeida, José Assunção, Joaquim Carreira, José Igreja, Daniel Santos e Ricardo Antunes, entre outros. Apesar da demissão de Nuno Almeida, a comissão política mantém-se em funções até às eleições para a secção, que têm que ser marcadas no prazo de 90 dias após as autárquicas. Neste momento, já perfilam dois possíveis candidatos, Daniel Santos e António Monteirinho.
Luis Martins