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Protesto com flores

Habitantes do Sabugueiro distribuíram flores para exigir melhores acessos

Os automobilistas que no domingo atravessaram a aldeia do Sabugueiro, em Seia, foram confrontados com uma manifestação pouco habitual. Os habitantes da “Aldeia mais alta de Portugal” mandaram parar os carros e ofereceram flores, acompanhadas de ramos de oliveira e loureiro, em sinal de protesto contra as condições actuais da Estrada Nacional (EN) 339. Mas os transeuntes compreenderam o gesto e participaram na contestação subscrevendo um abaixo-assinado.

A iniciativa, organizada pelo auto-denominado Grupo de Cidadãos do Sabugueiro, visa exigir a reabilitação da estrada que atravessa a localidade, ligando Seia à Torre, no alto da Serra da Estrela. Segundo Mário Jorge Branquinho, um dos coordenadores da iniciativa, esta foi a forma de protesto «mais pacífica e simpática» encontrada para demonstrar o desagrado da população. Para além de terem oferecido cerca de 2.000 flores, acompanhadas de ramos de oliveira e loureiro, os promotores da manifestação conseguiram recolher, durante a manhã e em apenas duas horas, 1.400 assinaturas para juntar ao abaixo-assinado que já vinham organizando há alguns dias. Apesar de ainda não haver uma noção do número de pessoas que aderiram a este movimento, o porta-voz do grupo de cidadãos acredita que os milhares de visitantes que passaram pelo Sabugueiro no Domingo de Ramos aldeia «assinaram». O documento vai agora ser remetido ao ministro das Obras Públicas e ao Instituto de Estradas de Portugal (IEP), com o intuito de demonstrar a urgência na recuperação da via. No entanto, os promotores ainda pretendem que mais pessoas possam aderir ao movimento e por isso vão prolongar a subscrição do abaixo-assinado até Domingo de Páscoa por causa da grande afluência que é esperada na Serra da Estrela.

Repavimentação adjudicada

A população, que recebeu o apoio da Câmara de Seia, reivindica a reabilitação da EN339, desde Seia até à Torre, bem como a criação de pequenas «bolsas de estacionamento» ao longo da mesma, designadamente na Lagoa Comprida e no Sabugueiro, mas também o melhor aproveitamento das valetas no troço que atravessa a aldeia de montanha. Os moradores exigem ainda com esta acção melhores meios de intervenção para o posto local de limpeza de neve e a criação de um posto da GNR temporário na localidade. Durante a manifestação, que coincidiu com o dia em que se registou o «maior movimento rodoviário» das últimas semanas, segundo a organização, os automobilistas concordaram com esta «forma justa e simpática de lutar por melhores condições», sublinha Mário Jorge Branquinho. O protesto simbólico decorreu «conforme o previsto» e a adesão a esta iniciativa inédita «superou» as expectativas, adianta aquele responsável. É que a população está revoltada «há alguns anos» com a precariedade dos acessos e com a escassez de estacionamentos, refere o porta-voz, para quem «já não havia outra alternativa que não fosse protestar, esgotado que está o diálogo com as entidades responsáveis».

Resta aguardar que este gesto simbólico tenha repercussões junto dos responsáveis, caso contrário prometem continuar a reclamar desta ou de outra maneira. Mário Jorge Branquinho lamenta que o Sabugueiro fique «sempre esquecido» na distribuição dos muitos investimentos para a Serra. Por isso, o Grupo de Cidadãos do Sabugueiro considera que chegou o tempo de exigir e deixa o aviso de outras manifestações menos pacíficas se a principal estrada de acesso ao maciço central não for requalificada. «Essas sim com sérias implicações na comunidade», garante. A EN339 é usada anualmente por milhares de automóveis e centenas de autocarros, sobretudo quando há neve na Serra, e são raros os fins-de-semana em que a via não está congestionada. Entretanto, o director de Estradas do distrito da Guarda, António Martins, disse que a repavimentação da estrada Seia-Torre, orçada no valor de cerca de 500 mil euros, já está adjudicada, mas que as obras estão suspensas devido ao período de invernia.

Patrícia Correia

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